No Meio do Nada
Por Matheus Duarte - um jovem comuna, gayzista e feminazi.
02/12/2015
O umbiguismo dos movimentos sociais como linha auxiliar do Sistema
Para não me estender muito e para maior entendimento de todos procurei ser o mais didático possível.
Qualquer pessoa que saiba o mínimo sobre o Marxismo já é capaz de enxergar que as opressões existentes provém do próprio Sistema. Aliás nem precisa ser marxista para entender isso, basta ter noção sobre o estruturalismo. Ou seja, o "sistema" de opressões está interligado à estrutura e não aos indivíduos. Assim sendo, já temos ideia da extrema ineficácia de se combater indivíduos homens, brancos, heterossexuais,etc. e não a estrutura.
O único caminho de se derrubar as opressões é lutar contra o Sistema. Quero deixar claro que isso não significa que a queda do sistema fará com que as opressões (machismo, racismo, homofobia e afins) sumam completamente, num passe de mágica, mas sim que é um passo essencial rumo a isso. O Sistema, por sua vez, não é algo simples e fácil de se derrubar. Bem longe disso. Ele é formado por poderosos que possuem um grande acúmulo de fortuna. Quem tem muito dinheiro tem o direito até mesmo de um exército particular. Pior do que isso, tem o poder de influenciar, ou melhor, alienar os próprios servos que são explorados e ao mesmo tempo ensinados a serem gratos por conta das migalhas recebidas e um falso sonho de crescimento e enriquecimento futuro.
Como lutar contra esse Sistema poderoso? Com a união de forças, não é mesmo? Mas o que temos hoje são movimentos sociais sectarizados, sem o mínimo conhecimento da questão de classe social. Integrantes do movimento negro estão mais preocupados com brancos roubando seu "lugar de fala" do que em reconhecer que o racismo é estrutural, originado pela inferiorização do indivíduo negro para sua posterior exploração com trabalho escravo e estendido até a nossa realidade atual, no Brasil, com maioria de população negra e uma minoria integrando o ensino superior e posições mais favorecidas nas empresas. O movimento feminista atual está, por sua vez, preocupado em considerar a vivência como única fonte da verdade e elemento essencial para o direito de debate - excluindo homens em discussões e, pasmem, combatendo até mesmo os homens que apoiam o movimento -além da incompreensível paranoia com relação ao protagonismo e esquece que o machismo foi impulsionado pelo patriarcalismo (uma essência do Sistema) e até a vertente radical, que se intitula como materialista, parece se preocupar mais em gritar pra todo mundo ouvir que transexual não é mulher e que por isso não possui lugar no movimento. O movimento LGBT é o que mais me preocupa, visto a falta de conhecimento total sobre o estruturalismo. Não é raro de se ver LGBT's ironizando pessoas de classes sociais menos favorecidas e ostentando bens de consumo de alto valor em busca da autoafirmação social. Ao movimento seria interessante a simples reflexão de que a homofobia sempre foi impulsionada pela igreja, esta que na História sempre foi braço fundamental do Sistema. O Sistema se beneficia disso até mesmo na modernidade, visto que a homossexualidade mais aceita nos dias atuais favorece campanhas de grandes empresas que vendem a imagem de gay-friendly em troca de lucros ainda maiores. Como nada é tão ruim que não possa ficar pior, militantes do movimento LGBT também estão adotando a prática do 'sem vivência, sem fala', além de fazer campanhas totalmente errôneas, como fiscalizar com quem as pessoas andam se relacionando intimamente, como se atração física fosse resumida a simples construção social.
Debates virtuais e nos próprios espaços acadêmicos se transformaram em shows de umbiguismo. "Cuida do seu movimento, que cuido do meu", "você não tem vivência, fique calado", "não preciso do seu apoio". Esse egocentrismo que assola os movimentos sociais produzem uma equação simples: mais sectarismo = maior enfraquecimento. E quando se fala em sectarismo não se fala somente entre o distanciamento dos movimentos feminista, negro, LGBT entre si, mas também de subdivisões dentro dos próprios movimentos.
E sabe quem é o único beneficiado com isso? O próprio Sistema. Ele tem o dom de transformar seus inimigos em aliados. Portanto, ao invés de você achar que está abafando mandando "macho chorar" ou branco reconhecer seu lugar de fala, saiba que na verdade você é apenas mais uma linha auxiliar do Sistema e que todo seus "esforços" são extremamente inúteis.
Para se combater um problema, conhecer sua origem é essencial, assim como reconhecer que mulheres, negros, homossexuais, transexuais, bissexuais estão no mesmo barco dos homens, brancos, heterossexuais - afinal, somos todos proletários reféns de um Sistema explorador. O foco deve ser o combate ao Opressor Rei e não na medição de quem é o mais oprimido.
17/11/2015
Sobre a comoção seletiva
Imagem por Vini Oliveira |
Antes de mais nada é bom reforçar que não existe nenhum problema em você se comover pelos atentados em Paris. Muito pelo contrário. Não se trata também de policiar ou fiscalizar a comoção alheia. Trata-se apenas de criticar o senso comum popular e repudiar a nojenta cobertura midiática sobre o caso.
Digo isso pelo fato da mídia não fazer uma cobertura especial, por exemplo, quando atentados na Nigéria, em janeiro deste ano, mataram cerca de 2000 pessoas. Sem falar dos números ainda mais absurdos quando se trata de mortes inocentes em áreas de conflitos, como na própria Síria. Também não foram elaborados filtros com as bandeiras destes países para as fotos de perfil no Facebook. Como diz a velha citação: "A morte de um rico é uma tragédia. A de um pobre, uma simples estatística". Essa é a triste realidade. Se o atentando ocorresse em algum país fora do primeiro mundo, será que iria rolar toda essa comoção e cobertura midiática? Logicamente a resposta é não.
Charge por Vini Oliveira |
Como já abordado, o problema não é você utilizar o filtro da bandeira francesa na sua foto de perfil, até porque isso não significa necessariamente que você não se comova pelas tragédias ocorridas em outras partes do planeta, assim como não significa que quem tenha colocado filtro colorido, em comemoração à legalização do casamento LGBT nos EUA, não se importe com a fome na África (alusão extremamente patética criada por reacionários). Agora se você colocou o filtro por pura demagogia, sem, de fato, se importar com o ocorrido, para seguir a onda ou para vender uma imagem de politicamente correto, aí temos muitos problemas e nem preciso explicar os motivos. Há de se considerar ainda que muita gente é vítima da imprensa, que acaba na correria do dia-a-dia nem sabendo das demais tragédias já que as mesmas não são destacadas pela mídia.
Enquanto fizermos vista grossa a esse seletivismo midiático, estaremos fomentando ainda mais a ideia de que a morte de um rico é mais comovente do que a de um pobre. Você pode aplicar o filtro que quiser em sua foto, mas ter senso crítico e saber que o buraco é bem mais embaixo e que tem uma quantidade muito maior de pessoas morrendo em áreas menos favorecidas é fundamental.
Abaixo deixarei alguns links para quem deseja conhecer mais sobre o problema do ISIS. Muitos países do chamado primeiro mundo passam longe de serem vítimas nisso (o que, obviamente, não justifica a morte de seus respectivos habitantes).
http://g1.globo.com/mundo/siria/noticia/2014/08/franca-repassou-armas-rebeldes-sirios-ha-varios-meses.html (notícia de 2014)
http://controversia.com.br/21953
http://www.vermelho.org.br/noticia/272789-9 (WikiLeaks acusa França e Estados Unidos de alimentarem Estado Islâmico)
https://www.youtube.com/watch?v=_Zj0i_39YZw (Video do Pirulla explicando os atentados em Paris)
https://www.youtube.com/watch?v=7kVRxJWw6jM (Vídeo do Pirulla explicando o Estado Islâmico).
07/10/2015
Sobre a "VIVÊNCIA"
"Lá vem o macho branco cis falando merda... hehe"
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que uma das coisas que mais venho criticando é a utilização de certos termos por integrantes de movimentos sociais, como vivência, por exemplo.
Algumas pessoas podem até terem interpretações distorcidas, como acharem que eu não ache a vivência algo importante. Mas ao contrário do que podem pensar, considero a vivência bastante importante.
Não vou entrar no mérito do que penso sobre os movimentos sociais, pois é um tema complexo e que renderia um textão daqueles - é melhor deixar para uma futura postagem.
Mas então, por qual motivo a vivência é importante? É uma reflexão simples: uma pessoa que vive na pobreza sabe muito bem das suas dificuldades e como é ser pobre mais do que a pessoa de classe média que se sente no direito de chamar o pobre de vagabundo, que não se esforça para ter uma vida melhor. Outro exemplo é o homossexual que diz que em nenhum momento escolheu sua sexualidade, que desde pequeno sente atração por pessoas do mesmo sexo e daí vem um heterossexual dizendo que na verdade sexualidade é uma opção
O que critico e ironizo é a maneira a qual muitas pessoas vem utilizando a palavra "vivência", colocando-a acima de conhecimento de causa (estudos, pesquisas) para desqualificar e barrar a opinião de outra pessoa, que não se encaixa dentro de tal militância. Assim, os chamados SJW (guerreiros da justiça social) criaram regras estapafúrdias do tipo:
- "Homem não pode dar pitaco no feminismo, pois ele não é mulher e não tem vivência."
- "Branco não pode dar pitaco no movimento negro, pois ele não é negro e não tem vivência."
- "Hétero não pode dar pitaco no movimento LGBTT, pois ele não é um LGBTT e não tem vivência."
Dar pitaco, nesses casos, é qualquer observação/opinião.
Lembro que o elemento vivência colabora muito para o conhecimento de causa, mas nada impede de que um branco, por exemplo, que estudou e faz pesquisas sobre o racismo, tenha bagagem suficiente para debater sobre o tema com "propriedade".
Colocar vivência acima do conhecimento de causa é irracional. E utilizá-la para blindar um movimento ou ideologia de debate é mais irracional ainda...
Imaginem os evangélicos dizendo que a gente não pode falar da religião deles por não sermos evangélicos. Ou os políticos falando que a gente não tem a vivência deles para dar pitaco no que eles fazem. Lembro também que Marx, Lênin, entre outros, não tinham a "vivência do proletariado". As obras e os feitos dos mesmos com relação aos proletários foram roubo de protagonismo? Roubo de lugar de fala?
Para concluir, deixo aqui uma dica aos paladinos da Justiça Social*: Se não quer debater(ou não tem capacidade para tal), apenas ignore a opinião de outrem. É de uma imbecilidade muito grande apelar ao Ad Hominem e usar técnicas como a da vivência para desqualificar a opinião alheia. Parem que tá feio, tá rude!
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que uma das coisas que mais venho criticando é a utilização de certos termos por integrantes de movimentos sociais, como vivência, por exemplo.
Algumas pessoas podem até terem interpretações distorcidas, como acharem que eu não ache a vivência algo importante. Mas ao contrário do que podem pensar, considero a vivência bastante importante.
Não vou entrar no mérito do que penso sobre os movimentos sociais, pois é um tema complexo e que renderia um textão daqueles - é melhor deixar para uma futura postagem.
Mas então, por qual motivo a vivência é importante? É uma reflexão simples: uma pessoa que vive na pobreza sabe muito bem das suas dificuldades e como é ser pobre mais do que a pessoa de classe média que se sente no direito de chamar o pobre de vagabundo, que não se esforça para ter uma vida melhor. Outro exemplo é o homossexual que diz que em nenhum momento escolheu sua sexualidade, que desde pequeno sente atração por pessoas do mesmo sexo e daí vem um heterossexual dizendo que na verdade sexualidade é uma opção
O que critico e ironizo é a maneira a qual muitas pessoas vem utilizando a palavra "vivência", colocando-a acima de conhecimento de causa (estudos, pesquisas) para desqualificar e barrar a opinião de outra pessoa, que não se encaixa dentro de tal militância. Assim, os chamados SJW (guerreiros da justiça social) criaram regras estapafúrdias do tipo:
- "Homem não pode dar pitaco no feminismo, pois ele não é mulher e não tem vivência."
- "Branco não pode dar pitaco no movimento negro, pois ele não é negro e não tem vivência."
- "Hétero não pode dar pitaco no movimento LGBTT, pois ele não é um LGBTT e não tem vivência."
Dar pitaco, nesses casos, é qualquer observação/opinião.
Lembro que o elemento vivência colabora muito para o conhecimento de causa, mas nada impede de que um branco, por exemplo, que estudou e faz pesquisas sobre o racismo, tenha bagagem suficiente para debater sobre o tema com "propriedade".
Colocar vivência acima do conhecimento de causa é irracional. E utilizá-la para blindar um movimento ou ideologia de debate é mais irracional ainda...
Imaginem os evangélicos dizendo que a gente não pode falar da religião deles por não sermos evangélicos. Ou os políticos falando que a gente não tem a vivência deles para dar pitaco no que eles fazem. Lembro também que Marx, Lênin, entre outros, não tinham a "vivência do proletariado". As obras e os feitos dos mesmos com relação aos proletários foram roubo de protagonismo? Roubo de lugar de fala?
Para concluir, deixo aqui uma dica aos paladinos da Justiça Social*: Se não quer debater(ou não tem capacidade para tal), apenas ignore a opinião de outrem. É de uma imbecilidade muito grande apelar ao Ad Hominem e usar técnicas como a da vivência para desqualificar a opinião alheia. Parem que tá feio, tá rude!
24/06/2015
O cidadão de bem
Quem é o cidadão de bem?
É geralmente homem, branco e de classe média, ou classe média alta.
É quem é contra o aborto por se dizer a favor da vida, mas defende com unhas e dentes a morte de bandidos geralmente pobres e não-brancos.
É quem acredita que a criminalidade será extinta através apenas de punição como cadeia ou pena de morte e não através de uma melhor distribuição de renda e melhorias de infra-estrutura.
É quem critica a exibição de afeto entre pessoas do mesmo sexo, mas aplaude cenas de violência.
É quem defende a família, mas agride a esposa e a chama de vagabunda cada vez que ela deixa ou demora a fazer um serviço doméstico.
É quem até mesmo trai a esposa, mas se diz contra a safadeza - muitas vezes esse termo é utilizado como sinônimo de homossexual.
É quem fica orgulhoso quando o filho de 12 anos já "comeu" uma menina e reprime, muitas vezes até de maneira violenta, se a filha de 16 anos aparecer com um namorado.
É quem pede respeito por ser cristão, mas sequer respeita seguidores de outras religiões. Blasfêmia é inadmissível, mas chutar macumba é divertido.
É quem critica diariamente a corrupção de políticos, mas suborna, faz gato de energia e água, sonega impostos...
Todas as barbáries que ocorreram ou ainda ocorrem no mundo são feitas por aqueles que se dizem cidadãos de bem.
O cidadão de bem é aquele que explora os mais necessitados, que julga todos aqueles que não se encaixam em seus "padrões", que pratica intolerância em todas as suas formas e que chama todas as suas vítimas de inimigos.
O cidadão de bem, enfim, é o retrato de uma sociedade hipócrita e adoecida. Não é por acaso que o jornal da KKK tinha o título de "Good Citizen".
É geralmente homem, branco e de classe média, ou classe média alta.
É quem é contra o aborto por se dizer a favor da vida, mas defende com unhas e dentes a morte de bandidos geralmente pobres e não-brancos.
É quem acredita que a criminalidade será extinta através apenas de punição como cadeia ou pena de morte e não através de uma melhor distribuição de renda e melhorias de infra-estrutura.
É quem critica a exibição de afeto entre pessoas do mesmo sexo, mas aplaude cenas de violência.
É quem defende a família, mas agride a esposa e a chama de vagabunda cada vez que ela deixa ou demora a fazer um serviço doméstico.
É quem até mesmo trai a esposa, mas se diz contra a safadeza - muitas vezes esse termo é utilizado como sinônimo de homossexual.
É quem fica orgulhoso quando o filho de 12 anos já "comeu" uma menina e reprime, muitas vezes até de maneira violenta, se a filha de 16 anos aparecer com um namorado.
É quem pede respeito por ser cristão, mas sequer respeita seguidores de outras religiões. Blasfêmia é inadmissível, mas chutar macumba é divertido.
É quem critica diariamente a corrupção de políticos, mas suborna, faz gato de energia e água, sonega impostos...
Todas as barbáries que ocorreram ou ainda ocorrem no mundo são feitas por aqueles que se dizem cidadãos de bem.
O cidadão de bem é aquele que explora os mais necessitados, que julga todos aqueles que não se encaixam em seus "padrões", que pratica intolerância em todas as suas formas e que chama todas as suas vítimas de inimigos.
O cidadão de bem, enfim, é o retrato de uma sociedade hipócrita e adoecida. Não é por acaso que o jornal da KKK tinha o título de "Good Citizen".
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08/06/2015
As Paradas gay e o tiro pela culatra
Há muito tempo venho dizendo que as paradas gay, especialmente no Brasil, perdeu o sentido da militância pra virar apenas uma espécie de "carnaval" gay, com a grande maioria indo somente para encher a cara e passar o rodo. Me preocupo com isso? Sim. Pela questão moral? Não, não sou moralista.
O problema é mais embaixo.
Essas paradas ganham uma extrema visibilidade, principalmente quando acontecem nas principais cidades do país, como São Paulo e Rio de Janeiro. Como o consumo de álcool e drogas é elevado e prática de atos sexuais em áreas públicas são frequentes, tudo isso vira arma contra o próprio movimento.
Se meia dúzia de héteros praticam orgia em vias no Carnaval, por exemplo, são tratados como safados individualmente... Quando quem pratica isso são os gays, o que acontece? Somos generalizados. "Tá vendo? Querem respeito mas são todos promíscuos".
A culpa disso é dos LGBT's? Claramente não. Se a sociedade diz que não tem preconceitos, mas generaliza na primeira oportunidade, o problema claramente não é nosso. Mas como esperar que a mente retrógrada da sociedade, especialmente a parte fundamentalista dela, entenda isso?
E mesmo quando pessoas utilizam esse movimento para militar,as coisas dão erradas. Ontem, na parada que aconteceu na capital São Paulo, uma trans protestou fazendo uma metáfora com o que aconteceu, por exemplo, a Jesus Cristo, sendo crucificada. O protesto é relevante e válido, mas os fundamentalistas não perderam tempo e começaram a vender tal ato como desrespeito religioso.
Quem conhece História sabe que Jesus Cristo não foi o primeiro e nem o último a ser crucificado, porém mesmo se a intenção da pessoa foi de se colocar no lugar de Jesus, qual o problema? Aonde que isso é desrespeito? Quando acontecem peças toda sexta-feira santa, todos os atores que encenam a crucificação de Cristo estão desrespeitando a religião? Ah, esqueci, quem estava na cruz ontem era uma transexual e isso não pode! São aberrações da natureza! Nossa! E ela mostrou os peitos! Quanta ousadia... Todos nós nascemos com roupas? Ah, e não são os mesmos fundamentalistas que alegam que a homossexualidade não é algo natural? Nada mais natural do que a nudez...
Ah, também não são os mesmos fundamentalistas que desrespeitam outras religiões, quebrando santos e chutando "macumbas"? Que irônico, não? Os cristãos pedem respeito, mas eles não respeitam as outras religiões! Ahhhh, como é bom generalizar...
Mas voltando ao tema, mesmo quando o protesto é válido, toda parada LGBT vira arma nas mãos dos moralistas. É o famoso tiro pela culatra. Quando vejo gays praticando orgia nas ruas e utilizando a manifestação apenas para diversão, fico intrigado e até eu que sou homossexual falo mal da passeata. Mas quando episódios, como a da transexual ontem, acontecem, volto a acreditar na necessidade de acontecer esse tipo de evento. É nesses dias que se dá pra observar nitidamente a classe opressora se passar por oprimida. Uma pontinha de dó nasce no meu coração.
Imagem do Facebook. Fonte desconhecida. |
Aos que criticaram a transexual, tente imaginar como é a vida de uma pessoa trans na sociedade. Vocês pensam que gays sofrem? A opressão sofrida por pessoas transexuais na sociedade é muito maior, muito mesmo. A maioria é expulsa de casa, não conseguem completar os estudos devido a hostilidade e sofrem marginalização no mercado do trabalho. Mas isso é apenas um resumo superficial e raso. Pesquisem e vejam como é a vida de uma pessoa transexual. Assim aposto que você irá pensar duas vezes antes de pensar em apontar o dedo para a manifestante de ontem, esteja você do lado dos religiosos fanáticos ou do próprio grupo LGBT.
01/06/2015
Filme "A Caça" e o perigo do julgamento impulsivo
Imagine a seguinte situação: uma criança de 6-8 anos de idade acusa um funcionário da escola de ter a abusado sexualmente.
Qual é a sua primeira reação? Provavelmente a revolta contra esse funcionário. Aliás essa é a atitude de praticamente todas as pessoas. Talvez a psicologia deva explicar melhor essa nossa tendência de sempre ficar do lado do mais fraco na maioria das ocasiões (isso mesmo, não é em todas, depende do construto social que vou explicar no decorrer do texto), mas como não tenho conhecimento da área, tratarei sob o aspecto cultural e social.
Quem assistiu ao filme "A Caça" - e quem não, procure assistir urgentemente pois se trata de uma grande película -, sabe muito bem dessa situação que mencionei no primeiro parágrafo. As pessoas de uma pequena cidade do interior se revoltam contra um funcionário da creche que segundo uma criança teria a mostrado seu órgão sexual. Observamos atitudes de afastamento familiar até agressões físicas e ameaças de morte ao acusado. Com aquele velho jargão de que "criança não mente" todos nós tendemos a confiar cegamente numa criança, ainda mais quando a acusação é de abuso sexual, pois é algo tão grave que sempre mexe com o lado impulsivo do ser humano já que imaginamos que poderia ser uma criança próxima da gente.
No caso do filme, o acusado é inocente e o diretor trabalha realmente em cima disso: deixar o expectador agonizado em saber que toda aquela reação violenta contra o protagonista desde o início da história é injusta. E essa agonia é exatamente para nos alertar que, por mais delicada que seja uma situação, jamais devemos deixar nos mover pela impulsão e senso comum. Por mais grotesca que seja uma acusação, devemos sempre colocar em mente a possibilidade de inocência de alguém. Sabemos da complexidade e das artimanhas da mente humana. Nem tudo é o que parece. Queremos tomar a exceção como regra? Não, mas sim estimular o uso da razão e do senso crítico.
Voltando ao ponto onde falo que nem todas as vezes a tendência de se ficar do lado mais fraco da história se concretiza. Sabemos que socialmente e culturalmente vivemos em um mundo tomado por preconceitos. Ainda hoje há racismo e homofobia. E esse é o lado x da questão: quando um homossexual alega ter sofrido violência de cunho homofóbico, por exemplo, a sociedade tende a se dividir com uma parte realmente acreditando que ocorreu sim homofobia e se indignando e a outra parte alegando que homossexuais são vitimistas, justificando a agressão por ser um ato passional ou até mesmo provocado pelo próprio acusador. Observe que no caso da acusação de abuso contra uma criança praticamente - ou absolutamente - ninguém fica do lado do acusado alegando que a menina é mentirosa, dissimulada, etc. É essa a interferência que evidencia a presença de preconceitos no julgamento social. Nesse caso especificamente, os LGBT tendem a acreditar cegamente no acusador e ficar do seu lado, por conta da homofobia que de fato existe e conviverem com isso diariamente. Essa análise cega (sem evidências) é complicada, pois nada impede que um homossexual faça uma acusação infundada contra alguém que não goste e queira prejudicar, por mais improvável que essa hipótese possa parecer.
Quanto ao racismo, podemos dar um exemplo semelhante. Hoje em dia o racismo diminuiu consideravelmente com relação a décadas atrás. Mas de forma alguma é algo pequeno. Por mais que as pessoas lutem para não ser racistas, há quase sempre pensamentos racistas lá no fundo de suas mentes. Sim, por mais que grande parte das pessoas não se considerem racistas, a maioria ainda tende a julgar um negro na rua como um possível criminoso (mais do que considera um branco, por exemplo). Portanto, num caso de acusação de racismo sem evidências, a maioria da sociedade tende a ficar do lado do acusador, mas uma boa parte ainda irá dizer que negros são vitimistas e assumam, mesmo que não declarem, que estão do lado do acusado. Mais uma vez a acusação, até então sem evidência, pede neutralidade de todos nós. Assim como a possibilidade da acusação ser verdadeira, até por conta do racismo existir, há também a possibilidade da acusação ser falsa para prejudicar alguém.
Ressalto mais uma vez que esse binarismo todo é errado. No caso do abuso, o acusado pode ser tanto vítima quanto criminoso. Nos casos da homofobia e racismo, também. Por mais que a tendência do ser humano seja agir por impulso e pelos seus instintos, todos devemos trabalhar o nosso lado racional. O simples fato de alguém ser o lado frágil da história não pode ser o embasamento para julgá-lo como vítima e o acusado como vilão. Uma falsa acusação e um julgamento social equivocada pode acabar com a vida de uma pessoa.
Então lembre-se: na falta de evidências, nunca assuma um lado.
Qual é a sua primeira reação? Provavelmente a revolta contra esse funcionário. Aliás essa é a atitude de praticamente todas as pessoas. Talvez a psicologia deva explicar melhor essa nossa tendência de sempre ficar do lado do mais fraco na maioria das ocasiões (isso mesmo, não é em todas, depende do construto social que vou explicar no decorrer do texto), mas como não tenho conhecimento da área, tratarei sob o aspecto cultural e social.
Quem assistiu ao filme "A Caça" - e quem não, procure assistir urgentemente pois se trata de uma grande película -, sabe muito bem dessa situação que mencionei no primeiro parágrafo. As pessoas de uma pequena cidade do interior se revoltam contra um funcionário da creche que segundo uma criança teria a mostrado seu órgão sexual. Observamos atitudes de afastamento familiar até agressões físicas e ameaças de morte ao acusado. Com aquele velho jargão de que "criança não mente" todos nós tendemos a confiar cegamente numa criança, ainda mais quando a acusação é de abuso sexual, pois é algo tão grave que sempre mexe com o lado impulsivo do ser humano já que imaginamos que poderia ser uma criança próxima da gente.
"A Caça" (Título original: Jagten). Um ótimo filme que mostra as duras consequência de uma falsa acusação. |
No caso do filme, o acusado é inocente e o diretor trabalha realmente em cima disso: deixar o expectador agonizado em saber que toda aquela reação violenta contra o protagonista desde o início da história é injusta. E essa agonia é exatamente para nos alertar que, por mais delicada que seja uma situação, jamais devemos deixar nos mover pela impulsão e senso comum. Por mais grotesca que seja uma acusação, devemos sempre colocar em mente a possibilidade de inocência de alguém. Sabemos da complexidade e das artimanhas da mente humana. Nem tudo é o que parece. Queremos tomar a exceção como regra? Não, mas sim estimular o uso da razão e do senso crítico.
Voltando ao ponto onde falo que nem todas as vezes a tendência de se ficar do lado mais fraco da história se concretiza. Sabemos que socialmente e culturalmente vivemos em um mundo tomado por preconceitos. Ainda hoje há racismo e homofobia. E esse é o lado x da questão: quando um homossexual alega ter sofrido violência de cunho homofóbico, por exemplo, a sociedade tende a se dividir com uma parte realmente acreditando que ocorreu sim homofobia e se indignando e a outra parte alegando que homossexuais são vitimistas, justificando a agressão por ser um ato passional ou até mesmo provocado pelo próprio acusador. Observe que no caso da acusação de abuso contra uma criança praticamente - ou absolutamente - ninguém fica do lado do acusado alegando que a menina é mentirosa, dissimulada, etc. É essa a interferência que evidencia a presença de preconceitos no julgamento social. Nesse caso especificamente, os LGBT tendem a acreditar cegamente no acusador e ficar do seu lado, por conta da homofobia que de fato existe e conviverem com isso diariamente. Essa análise cega (sem evidências) é complicada, pois nada impede que um homossexual faça uma acusação infundada contra alguém que não goste e queira prejudicar, por mais improvável que essa hipótese possa parecer.
Quanto ao racismo, podemos dar um exemplo semelhante. Hoje em dia o racismo diminuiu consideravelmente com relação a décadas atrás. Mas de forma alguma é algo pequeno. Por mais que as pessoas lutem para não ser racistas, há quase sempre pensamentos racistas lá no fundo de suas mentes. Sim, por mais que grande parte das pessoas não se considerem racistas, a maioria ainda tende a julgar um negro na rua como um possível criminoso (mais do que considera um branco, por exemplo). Portanto, num caso de acusação de racismo sem evidências, a maioria da sociedade tende a ficar do lado do acusador, mas uma boa parte ainda irá dizer que negros são vitimistas e assumam, mesmo que não declarem, que estão do lado do acusado. Mais uma vez a acusação, até então sem evidência, pede neutralidade de todos nós. Assim como a possibilidade da acusação ser verdadeira, até por conta do racismo existir, há também a possibilidade da acusação ser falsa para prejudicar alguém.
Ressalto mais uma vez que esse binarismo todo é errado. No caso do abuso, o acusado pode ser tanto vítima quanto criminoso. Nos casos da homofobia e racismo, também. Por mais que a tendência do ser humano seja agir por impulso e pelos seus instintos, todos devemos trabalhar o nosso lado racional. O simples fato de alguém ser o lado frágil da história não pode ser o embasamento para julgá-lo como vítima e o acusado como vilão. Uma falsa acusação e um julgamento social equivocada pode acabar com a vida de uma pessoa.
Então lembre-se: na falta de evidências, nunca assuma um lado.
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31/05/2015
Para os fanáticos religiosos cuidar da vida sexual alheia é mais importante do que matar a fome do próximo
O mais novo alvo da indignação dos religiosos fanáticos é uma marca de cosméticos. Todo mundo já deve ter visto o comercial da empresa, que em razão da promoção do Dia dos Namorados, apresenta uma diversidade de casais trocando perfumes de presente, entre eles um casal gay e outro lésbico. E o máximo que acontece entre esses casais é um abraço.
Simples abraços que causaram fúria entre os defensores da família margarina tradicional brasileira que se organizaram para negativarem a avaliação do vídeo comercial no YouTube. Nesse exato momento são contabilizadas 40 mil positivações contra 104 mil negativações.
Fico aqui pensando no que leva esses idiotas a praticar esse tipo de idiotice. Ignorância? Talvez. Falta do que fazer? Pode ser. Alienação religiosa? Provavelmente sim. Porém a única explicação plausível que martela em minha cabeça é a falta de humanidade.
Digo isso pois não vejo esses grupos de fanáticos fazendo campanha pra doação de comida para os africanos que morrem de fome e nem mesmo se sensibilizando com a miséria alheia, na grande maioria das vezes ignorando moradores de rua e os considerando como meros "vagabundos" que não querem trabalhar. Não é possível que nas mentes vazias desses idiotas a ideia de mudar o mundo se importando quem fulano ama ou com quem sicrano transa é algo realmente plausível.
Será que é o amor e o afeto os responsáveis por toda desgraça do mundo? Com toda certeza não.
Somente mesmo a falta de humanidade pode responder o porquê de um mero abraço entre pessoas do mesmo sexo ser mais chocante do que cenas de violência, que extorsão de fiéis por líderes religiosos, do que todo machismo que é imposto no dia-a-dia, do que a miséria, fome e tudo mais de desumano que acontece hoje no mundo. É preciso mais do que alienação e ignorância para renunciar assim ao bom senso e à humanidade.
Se ao invés de darem uma negativação ao vídeo em questão, essas pessoas doassem 1 real para quem precisa de comida, já teríamos 104 mil reais - valor que ajudaria a matar a fome de muita gente. Mas fazer o que se cuidar da vida sexual alheia é mais importante do que dar pão para os famintos?
A raça humana continua no seu processo de eterno de luto...
Simples abraços que causaram fúria entre os defensores da família margarina tradicional brasileira que se organizaram para negativarem a avaliação do vídeo comercial no YouTube. Nesse exato momento são contabilizadas 40 mil positivações contra 104 mil negativações.
Fico aqui pensando no que leva esses idiotas a praticar esse tipo de idiotice. Ignorância? Talvez. Falta do que fazer? Pode ser. Alienação religiosa? Provavelmente sim. Porém a única explicação plausível que martela em minha cabeça é a falta de humanidade.
Digo isso pois não vejo esses grupos de fanáticos fazendo campanha pra doação de comida para os africanos que morrem de fome e nem mesmo se sensibilizando com a miséria alheia, na grande maioria das vezes ignorando moradores de rua e os considerando como meros "vagabundos" que não querem trabalhar. Não é possível que nas mentes vazias desses idiotas a ideia de mudar o mundo se importando quem fulano ama ou com quem sicrano transa é algo realmente plausível.
Será que é o amor e o afeto os responsáveis por toda desgraça do mundo? Com toda certeza não.
Somente mesmo a falta de humanidade pode responder o porquê de um mero abraço entre pessoas do mesmo sexo ser mais chocante do que cenas de violência, que extorsão de fiéis por líderes religiosos, do que todo machismo que é imposto no dia-a-dia, do que a miséria, fome e tudo mais de desumano que acontece hoje no mundo. É preciso mais do que alienação e ignorância para renunciar assim ao bom senso e à humanidade.
Se ao invés de darem uma negativação ao vídeo em questão, essas pessoas doassem 1 real para quem precisa de comida, já teríamos 104 mil reais - valor que ajudaria a matar a fome de muita gente. Mas fazer o que se cuidar da vida sexual alheia é mais importante do que dar pão para os famintos?
A raça humana continua no seu processo de eterno de luto...
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