07/10/2015

Sobre a "VIVÊNCIA"

"Lá vem o macho branco cis falando merda... hehe"



Quem me acompanha nas redes sociais sabe que uma das coisas que mais venho criticando é a utilização de certos termos por integrantes de movimentos sociais, como vivência, por exemplo.

Algumas pessoas podem até terem interpretações distorcidas, como acharem que eu não ache a vivência algo importante. Mas ao contrário do que podem pensar, considero a vivência bastante importante.

Não vou entrar no mérito do que penso sobre os movimentos sociais, pois é um tema complexo e que renderia um textão daqueles - é melhor deixar para uma futura postagem.

Mas então, por qual motivo a vivência é importante? É uma reflexão simples: uma pessoa que vive na pobreza sabe muito bem das suas dificuldades e como é ser pobre mais do que a pessoa de classe média que se sente no direito de chamar o pobre de vagabundo, que não se esforça para ter uma vida melhor. Outro exemplo é o homossexual que diz que em nenhum momento escolheu sua sexualidade, que desde pequeno sente atração por pessoas do mesmo sexo e daí vem um heterossexual dizendo que na verdade sexualidade é uma opção

O que critico e ironizo é a maneira a qual muitas pessoas vem utilizando a palavra "vivência", colocando-a acima de conhecimento de causa (estudos, pesquisas) para desqualificar e barrar a opinião de outra pessoa, que não se encaixa dentro de tal militância. Assim, os chamados SJW (guerreiros da justiça social) criaram regras estapafúrdias do tipo:

- "Homem não pode dar pitaco no feminismo, pois ele não é mulher e não tem vivência."

- "Branco não pode dar pitaco no movimento negro, pois ele não é negro e não tem vivência."

- "Hétero não pode dar pitaco no movimento LGBTT, pois ele não é um LGBTT e não tem vivência."

Dar pitaco, nesses casos, é qualquer observação/opinião.

Lembro que o elemento vivência colabora muito para o conhecimento de causa, mas nada impede de que um branco, por exemplo, que estudou e faz pesquisas sobre o racismo, tenha bagagem suficiente para debater sobre o tema com "propriedade".

Colocar vivência acima do conhecimento de causa é irracional. E utilizá-la para blindar um movimento ou ideologia de debate é mais irracional ainda...

Imaginem os evangélicos dizendo que a gente não pode falar da religião deles por não sermos evangélicos. Ou os políticos falando que a gente não tem a vivência deles para dar pitaco no que eles fazem. Lembro também que Marx, Lênin, entre outros, não tinham a "vivência do proletariado". As obras e os feitos dos mesmos com relação aos proletários foram roubo de protagonismo? Roubo de lugar de fala?

Para concluir, deixo aqui uma dica aos paladinos da Justiça Social*: Se não quer debater(ou não tem capacidade para tal), apenas ignore a opinião de outrem. É de uma imbecilidade muito grande apelar ao Ad Hominem e usar técnicas como a da vivência para desqualificar a opinião alheia. Parem que tá feio, tá rude!