23/12/2014

O porquê de Lucy ser melhor que Interestelar.

ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS DE AMBOS OS FILMES!


Alguns podem até pensar que estou sob efeito de alguma substância alucinógena para afirmar isso, mas garanto minha sobriedade: Lucy e Interestelar são dois filmes que possuem muito em comum, sendo o primeiro muito melhor que o segundo. Vamos para as justificativas.

Lucy e Interestelar possuem muita coisa em comum com 2001, de Kubrick. A diferença é que Nolan fez charminho e tentou esconder ao máximo que sua obra é uma refilmagem escancarada, já Lucy não faz questão nenhuma de esconder suas referências a 2001: do começo, com a retratação de um primata (Aurora do Homem), até o seu final, com o monolito sendo modernizado para um poderoso pen drive!

Enquanto Interestelar foi fantasiado por uma pseudo-complexidade, com excessos de didatismo, teorias sonolentas e uma viagem intergaláctica sem sal, Lucy é bem mais direto ao ponto, simplista e cheio de ação, atingindo um alto nível de entretenimento sem precisar mostrar nada além da Terra. Ah, não posso deixar de comentar a respeito da duração... Enquanto o filme de Nolan possui exaustantes 179 minutos, Lucy tem a metade da duração com um ritmo é dinâmico e envolvente. Isso se deve ao fato de Lucy, além de não se preocupar com o didatismo massante para nerds nível hard, não cair na pieguice dos dramalhões familiares. O único contato de Lucy com algum parente é com a mãe – e ainda através de uma ligação telefônica – e no outro extremo, Nolan filmou um primeiro ato inteirinho só com esses conflitos batidos na família do protagonista, só para justificar o sentimentalismo barato no restante da película.

Falando em protagonista, eis um outro ponto em Lucy leva vantagem. Está certo que McCounaguey é um ator que não pode ser comparado com  Scarlett Johansson, mas em termos de personagens, o da loira é bem mais interessante. Enquanto Cooper não passa de uma mera idealização do herói americano bonzinho, Lucy chega a matar um taxista inocente só pelo fato dele não falar a sua língua.

E para finalizar o texto, vamos falar sobre os finais dos filmes. Se não bastassem as quase 3 horas, Interestelar se conclui da maneira mais vergonhosa possível, como se chamasse o espectador de idiota. Palmas para o francês Luc Besson, que concluiu seu filme com um argumento bem mais crível e contundente. Afinal, aceitar que uma mulher usou todo seu potencial cerebral para voltar/avançar no tempo é bem mais fácil do que aceitar que o tempo é tão relativo que podemos ocupar o mesmo espaço no presente e no futuro (ou seria no passado?) ao mesmo tempo.

20/12/2014

Minha posição sobre redução da maioridade penal, pena de morte e revogação do Estatuto do Desarmamento.

Com relação à redução da maioridade penal para 16 anos e à pena de morte, sou totalmente contra se tais medidas forem encaradas como preventivas, mas concordo que sejam ótimas medidas punitivas. Quem tem 16 anos já pode responder como gente grande por seus atos e criminosos altamente perigosos, que forem julgados como não reabilitáveis, devem receber pena de morte para que o dinheiro, que o Governo usa para mantê-los presos, possa ir para programas assistenciais e ajudar quem, de fato, necessite.

Como já disse, tais medidas precisam ser encaradas como punitivas e não preventivas. Elas em nada colaborariam para melhora dos índices da segurança pública. Para isso, que é algo bem mais complexo, somente o ataque na raiz do problema é a solução: investimento pesado em educação e aprofundamento das políticas de combate às desigualdades sociais. Não se pode deixar de comentar que nosso Código Penal tem de ser completamente revisto e alterado. Atualmente, nossa Justiça acaba funcionando bem para quem é negro/pobre, porém maleável para quem é rico. Um exemplo nítido dessa injustiça é o jovem que continua preso por portar um produto de limpeza em uma manifestação em 2013, mas políticos envolvidos em esquemas de corrupção continuarem soltos ou não chegando a cumprir um período considerável nos presídios. Desta maneira, na atual situação do Brasil, sou contra a implantação de tais medidas punitivas de maneira isolada.

Com relação à revogação do Estatuto do Desarmamento, sou contra. Os que são favoráveis a tal medida, só conseguem idealizar o "cidadão de bem" se defendendo dos criminosos e ignoram o fato de uma arma poder ser utilizada numa briga passional, de trânsito, de bar... Ou então pode acabar encorajando o cidadão a reagir em um assalto, colocando sua própria vida em perigo. Mesmo havendo uma rigorosa avaliação psicológica para decisão da aptidão ou não de uma pessoa portar uma arma de fogo, temos que levar em consideração que a mente humana é complexa demais e que somos guiados, por diversas vezes, pelos nossos instintos. E não podemos comparar nosso país com as nações mais desenvolvidas, por motivos óbvios.

Enfim, esses são meus posicionamentos. Caso queria relatar os seus, deixe um comentário.



08/12/2014

Contradições reacionárias

Hoje não irei dissertar. Elaborei as seguintes imagens para debatermos com relação a essa explosão de reacionários, defensores da Direita política, que aconteceu durante e após as eleições deste ano.







23/11/2014

[CINEMA] Crítica: Interestelar (2014)

Avaliação: 6,0 (de 10,0)

Interstellar, 2014. Direção: Christopher Nolan. Elenco: Matthew McConaugheyAnne HathawayMichael Caine. 




Admirado por uns e duvidado por outros, Christopher Nolan é inegavelmente um dos grandes diretores da atualidade. A ótima sacada em Amnésia (2000) foi a narrativa invertida que engrandecera um plot simplório, tornando a trama bem mais atraente e envolvente. Já em 2012, Nolan entregou o suspense policial Insônia, que até o momento, foi o seu projeto mais modesto, mesmo assim, ótimo. Porém, foi com a trilogia Batman que o cineasta se consagrou. Aliás, não só se consagrou, mas como também ditou moda, servindo como referência para vários outros filmes de ação e/ou super-heróis subsequentes.

Com todo o sucesso dos dois primeiros "Batman's" e holofotes virados para si, Nolan sentiu-se inspirado para almejar vôos bem mais altos com projetos mais audaciosos. O primeiro deles foi "A Origem", explorando o mundo dos sonhos utilizando-se de um roteiro pretensioso (até demais). O problema é que a realização em si ficou aquém de toda a pretensão, deixando o resultado final com uma ingrata sensação de vazio. O segundo, finalmente, foi este a qual falamos hoje: Interestelar.

Assim como em "A Origem", Nolan são soube ponderar a equação pretensão x realização, esta mais importante do que as equações físicas e matemáticas que tanto aparecem dentro da trama e que pouco têm a dizer para espectadores leigos no assunto, como eu. A boa notícia é que "Interstellar" possui elementos mais interessantes e melhores abordados do que "Inception", embora isso não queira dizer que o filme seja ótimo. Um desses elementos é relacionado com a relatividade do tempo e como somos impotentes perante sua inevitabilidade (o choque que o filme nos submete logo após a equipe chegar no primeiro planeta após cruzarem o buraco é algo que dói na alma!). Outros desses elementos são os belos efeitos visuais e a eficiente trilha sonora que contribui para o processo de imersão e tensão da história. Dentre os méritos, não posso deixar de citar ainda a atuação de Matthew McConaughey como protagonista que, mais uma vez, se engrandece na tela e mostra o porquê de ser considerado um dos melhores atores que o cinema possui hoje.

Falando agora dos deméritos, o principal deles é o próprio roteiro. Quando a obra chega ao fim, num primeiro momento podemos ficar vislumbrados seja pelas mensagens, alusões ou pelo espetáculo técnico, porém ao processar horas depois, o que vimos de maneira mais racional e crítica, percebemos o quão comum e esquemática é a história: começa focando nas relações interpessoais para que isso dê um impacto emocional mais adiante, parte para uma viagem cheia de mistérios, reviravoltas (sendo a maioria delas previsíveis) e conflitos internos, se concluindo de maneira apoteótica e demagoga.

É também interessante observar que ao mesmo tempo que o filme tenta nos passar a ideia da grandeza imensurável de toda a existência, alguns acontecimentos mostram exatamente o contrário: em certo momento da fita um dos personagens perde sua nave, fica desacordado, vagando solitário e inconsciente pelo espaço e posteriormente, sem maiores explicações, é resgatado são. Usar o pretexto de ficção científica para menosprezar a inteligência do expectador, fugindo de qualquer compromisso com a coesão, não pega bem, muito menos para um cineasta que se preocupa tanto em explicar fatores científicos irrelevantes para a história de maneira tão didática.

Mesmo possuindo seus altos e baixos, "Interestelar" é um filme interessante e que vale a pena ser conferido. O que fica claro, pelo menos para mim, é que capacidade é algo que Nolan já demonstrou ter principalmente em seus projetos mais "simples", faltando desenvolver destreza e sensibilidade suficientes para transformar suas grandes ambições em resultados a altura delas.





21/11/2014

Vitimismo e meritocracia

Ler comentários postados em redes sociais e portais de notícias vem sendo tarefa cada vez mais amarga. A ignorância, o preconceito, a desonestidade intelectual e o excesso de Ad Hominem estão se propagando de tal maneira que é preciso ter um estômago muito forte para suportar.



A nova modinha é a utilização da palavra "vitimismo" para minimizar os preconceitos sofridos por grupos minoritários e oprimidos. Se um negro reclama que sofreu racismo ele está se vitimizando. Se um homossexual foi agredido por razões homofóbicas, também está querendo se fazer de vítima. O mesmo acontece com um miserável que reclama por não ter o que comer: "Enquanto ele se vitimiza, poderia estar trabalhando e ganhando seu sustento".

Essas acusações de "vitimismo" quase sempre são acompanhadas pela inversão entre oprimido e opressor. Em um caso de racismo, onde uma pessoa negra foi insultada de "macaco", por exemplo, aparecem vários brancos "argumentando" coisas do tipo "ah, me chamam de branquelo, então também sofro preconceito". Quando um gay apanha, é morto ou sofre preconceito, são frases como "milhões de héteros apanham ou morrem todos os dias. Isso é heterofobia?" e "não se pode nem ter uma opinião hoje em dia. Daqui a pouco vai ser crime ser hétero (rsrs)" ou até mesmo "apanhou porque deveria ter mexido ou estar se pegando em público!" que ganham destaque pela classe média branca-cristã-hetera que deve sofrer muita discriminação no dia-a-dia.

Os números que comprovam o "vitimismo" dos negros. Fonte: Wikipedia.


Os preconceituosos estão adotando essas estratégias para exercerem seus preconceitos. A defesa da liberdade de expressão (só para eles), a inversão da opressão e a santificação do preconceito (não sou quem diz, mas sim a Bíblia!!) demonstram o quão ridículas essas pessoas e seus argumentos são. Chega a ser engraçado elas chamarem opressão de liberdade de expressão e serem contraditórias com o próprio termo ao não aceitarem opiniões contrárias. Quando utilizam o termo "vitimismo", essas pessoas ignoram que, na verdade, elas próprias estão se fazendo de vítimas. Grupos como os negros e LGBT's são vítimas de preconceitos históricos que, infelizmente, continuam acontecendo até os dias atuais. As provas disso são evidentes: quantas pessoas negras moram em bairros nobres e quantas em favelas? Se existirem dois suspeitos de um crime, sendo entre um branco e outro negro, de quem as autoridades e a sociedade mais desconfiará? Quanto aos heterossexuais, sofrem hostilização nas ruas pelo simples fato de serem héteros? Casais héteros são repreendidos quando estão se beijando em público? Existem pessoas que se acham no direito de limitar as liberdades individuais de héteros, como com quem e como podem se casar, se podem ou não adotarem filhos? Não é inegável que um homossexual, ainda mais o afeminado, seja mais vulnerável nas ruas do que um heterossexual?

Portanto, se você é branco, heterossexual, classe média e cristão e ainda por cima acha que está sofrendo opressão por parte de minorias, parabéns, tu és um grande ignorante e desonesto intelectual. Saia dessa bolha e veja o mundo com os olhos da realidade, afinal quem dera se não existisse mais racismo, homofobia, machismo, etc. e estas pessoas apenas se fizessem de vítimas.

O mais triste é que tem gente dentro desses grupos minoritários que sustentam esses argumentos. Estes me fazem crer que ou não conhecem a si próprios ou possuem uma mentalidade tão vulnerável a ponto de aceitarem e apoiarem seus opressores para se autoafirmarem e se sentirem mais "inclusos" dentro da sociedade. Como afirmou Simone de Beauvoir: "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos."



Por fim, chego no assunto da meritocracia, outra expressão que está na moda, que não passa de uma mera utopia. Para se haver mérito, todas as pessoas inclusas na sociedade deve possuir as mesmas oportunidades e sem a ocorrência de desigualdades sociais. Dentro de um grupo, vamos supor de um milhão de pessoas, se uma pessoa não tiver as mesmas oportunidades do que o restante do grupo, a meritocracia já se torna uma filosofia falida. Se a meritocracia não pode ser "justa" e sustentável nos países mais ricos, quem dirá num país como o Brasil, uma nação que está ainda muito longe até mesmo de chegar perto da erradicação da pobreza. Afinal, como considerar que uma pessoa pobre, que estudou em uma instituição pública de péssima qualidade e outra pessoa, rica que os pais pagaram para ela estudar na melhor instituição de ensino da cidade, terão as mesmas oportunidades na vida? A meritocracia, aliás, muitas vezes não consegue ser sustentada nem em empresas, onde os bajuladores costumam possuir mais chances de crescimento do que quem realmente é bom funcionário.

Criticar os programas sócio assistenciais em defesa de uma sociedade meritocrática só evidencia o quanto a pessoa é ignorante com relação a estruturação social e egoísta a ponto de querer enxergar somente o que ela quer ver, no caso, o próprio umbigo. Em tempos reacionários, defender justiça social é um cansativo trabalho de paciência. Felizmente, ainda me resta um pouquinho.

18/11/2014

[CINEMA] Crítica: Cães de Aluguel

AVALIAÇÃO: 9,5/10,0.

Reservoir Dogs, 1992. Direção: Quentin Tarantino. Elenco: Michael Madsen, Chris Penn, Harvey Keitel,  Tim Roth.

Texto publicado em 19/01/2013 no site CinePlayers.

O surgimento de um mito. Se fosse para resumir o primeiro trabalho de Quentin Tarantino como diretor em uma frase, seria essa.

Em "Reservoir Dogs", o diretor mostra, de maneira bem clara, sua oposição aos clichês hollywoodianos e com sua personalidade cinéfila, conduz um plot aparentemente simples e batido em um filme que enche os olhos. Logo em seu início, o longa incorpora os temas que virariam marcas registradas do cineasta: excessivo uso de diálogos e referências à “cultura pop”. Momentos antes de roubarem diamantes em uma loja, os “cães” estão reunidos em uma lanchonete debatendo sobre músicas da Madonna e discutindo sobre o porquê de dar ou não gorjetas às garçonetes. E por incrível que pareça, esses diálogos são divertidos, passando bem longe de causarem tédio, por mais que não tenham qualquer relação com a trama central.

Com o decorrer do filme, percebemos que a narrativa não segue a ordem cronológica comum. Então conhecemos uma outra característica do diretor: fugir do convencional. Qualquer outro cineasta de desdobraria para executar a cena do roubo aos diamantes.
Tarantino ignorou isso, filmando apenas os acontecimentos anteriores e posteriores ao evento, mostrando que o roubo em si não tem importância alguma para a história. Os personagens e seus instintos, esses sim são importantes. E as consequências são mais do que importantes: são oportunidades para que tudo vire um show de ânimos exaltados, egos inflados e sangue derramado. Ah, por falar em sangue, eis outro elemento que se tornaria sua marca registrada, e sem moderações.

O roubo não deu totalmente certo. Um dos cães era um tira traidor. Alguns morreram, outros se feriram. Tarantino faz sua própria versão de “Quem é o traidor?”. E quando digo “sua própria versão”, preciso explicar mais alguma coisa? Não se há preocupação alguma em revelar este segredo ao espectador apenas no final. Pelo contrário, todas as pistas são dadas de cara. A história não precisa se prender nos habituais segredos. O segredo é jogado na nossa cara, para podermos nos divertir observando os personagens se debaterem na dúvida até o fim.

Para entrar no mérito de atuações e parar, por um pequeno momento, com os inúmeros elogios ao condutor do filme, até o canastra Michael Madsen consegue fazer uma boa participação. Mas são Harvey Keitel e Tim Roth que roubam a cena como Mr. White e Mr. Orange, respectivamente. “Não acredito que ela me matou, Larry!”.

Cada detalhe faz de “Reservoir Dogs” uma obra-prima. Desde o já mencionados, até a escolha dos apelidos personagens (usando nomes de cores), a ambientação, a hilária história do banheiro e o final, que é um dos mais humanos da história do cinema. Quentin Tarantino faz um filme para agradar suas próprias paixões, sendo esse, talvez, o principal motivo para o seu sucesso. Originalidade, ousadia, precisão, despirocagem, loucura… Poderia escrever um livro de 500 páginas para descrever as peculiaridades deste grande diretor e este seu primeiro trabalho, mas, nesse momento, prefiro parar por aqui.

[CINEMA] Crítica: Onde os Fracos Não Têm Vez

AVALIAÇÃO: 7,5/10,0

No Country for Old Men, 2007. Direção:  Ethan Coen, Joel Coen. Elenco: Tommy Lee Jones,  Javier Bardem, Josh Brolin.




Texto publicado em 11/11/2012 no site CinePlayers.

"Adaptação do livro de Cormac McCarthy, obra dos Irmãos Coen entra na lista dos filmes mais supervalorizados da história do cinema."

Alguém acha uma maleta cheia de dinheiro e o verdadeiro dono dela vai em sua busca, em uma caçada de gato e rato. Este argumento, por si só, já é batido demais. Porém, os Irmãos Coen colocaram uma pitada de "os tempos mudaram" em sua narrativa, sob o ponto de vista de um velho (e incompetente) Xerife, para tentar fugir do clichê. Isso seria bem interessante se fosse melhor explorado, uma vez que só se evidencia no começo e no final da trama.


Para piorar, o desenvolvimento do filme é carregado de falhas. Chega a ser patético o fato do bandido Chigurh (Javier Bardem) encontrar Llewelyn Moss (Josh Brolin), o portador da maleta, em qualquer lugar. No início, tal fato é justificável devido a maleta ter um localizador escondido, mas e depois que o mesmo é descoberto e retirado dela? Sem falar que estou até agora sem entender a parte em que Moss esconde a maleta no duto ventilação de um hotel e depois pega outro quarto, fazendo uma tremenda gambiarra para retirá-la. Lembrando que até essa cena ele não sabia da existência do localizador. Outra interrogação que ficou em minha cabeça foi: por que diabos uns assassinatos são mostrados e outros não? Se o objetivo foi o de tornar a trama mais complexa, não funcionou. E a maneira pela qual o veterano Xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) é inserida na história, leva o espectador a questionar sua competência, chegando atrasado nas cenas dos crimes e sem falar que, em certo momento, ele vê os bandidos fugindo e prefere parar para ver o que aconteceu do que persegui-los.


Mas há também muitos pontos positivos na obra dos Coen. O mais destacável é a magistral atuação de Javier Bardem, que dá um tom assustador ao seu mitológico personagem, e faz muitos estragos apenas com um tubo de pressão para matar gado. A interpretação de Bardem e a caracterização de seu personagem faz o mesmo entrar na lista dos melhores vilões da história do cinema. O Oscar de melhor ator coadjuvante foi merecidissimo ao contrário dos outros 3 que o longa foi premiado. Falando em atuações, é sempre muito bom ter Tommy Lee Jones no elenco. Aqui, apesar de achar que o mesmo foi mal aproveitado, sua presença dá um charme a mais. Josh Brolin dá para o gasto, em uma atuação que não exige muito. O filme também contém alguns, digo alguns, diálogos interessantes e reflexivos. E quando existe o nome de Roger Deakins envolvido numa produção é certeza que temos uma fotografia magnífica e aqui, colabora para aumentar o tom sombrio e de suspense em algumas cenas. A mais memorável delas é a que Moss está em um hotel, percebe que Chigurh está lá, apaga a luz e fica com a arma apontada para a porta, observando os vultos do corredor pela soleira. Esses pontos salvam a produção do pior.


Quando o filme acaba (e por sinal o final é muito fraco), ficamos com a sensação de que "Onde Os Fracos Não tem Vez" poderia ter sido bem melhor. O rascunho é excelente, apesar da historinha clichê, mas contém furos gritantes de desenvolvimento. Existem detalhes no cinema que podem ser ignorados com facilidade e infelizmente isso não acontece aqui.
Talvez, o mais decepcionante foi ver este ganhar de "Sangue Negro" na disputa pelo Oscar de melhor filme. Definitivamente, a principal premiação de cinema do mundo não serve mais como referência de qualidade.

[CINEMA] Crítica: Corpo Fechado

AVALIAÇÃO: 7,5/10

Unbreakable, 2000. Direção: M. Night Shyamalan. Elenco:  Bruce Willis, Samuel L. Jackson,  Robin Wright .



No cinema, assim como é em qualquer outra área, ao se realizar um grande feito uma bagagem pesada é posta sobre as costas do realizador. Nesta bagagem encontram-se as cobranças e expectativas para o futuro. Shyamalan sentiu bem esse peso após nos presentear, em 1999, com o filmaço "O Sexto Sentido" ao entregar, um ano depois, "Corpo Fechado".

Para o bem e para o mal, Unbreakable apresenta inúmeras semelhanças ao sucesso anterior do cineasta indiano. Entre elas, as mais notáveis são a escalação novamente de Bruce Willis para o papel principal, a fotografia sombria, o ritmo lento, a paranormalidade e, claro, um final surpresa. Portanto seria impossível não comparar as obras entre si.

Willis mais uma vez comprova todo o seu talento em um papel dramático. Sua qualidade e carisma contribuem para que sua atuação seja o ponto mais alto da película. Os aspectos técnicos como a fotografia e tomadas de câmera bem sacadas funcionam novamente de maneira bem satisfatória. E mesmo com o ritmo da história fluindo de maneira lenta, Shyamalan consegue criar uma atmosfera envolvente o suficiente para que o espectador passe bem longe de bocejar. As referências aos heróis de quadrinhos são bem interessantes, assim como os detalhes bem bacanas perceptíveis caso seja apreciado com maior atenção (repare bem no personagem de Samuel L. Jackson e seu apelido).

Os problemas do filme se encontram exatamente em uma das suas estruturas mais elogiadas: no roteiro. O personagem David Dunn (Willis) sai como único sobrevivente (e sem nenhum arranhão) de um acidente de trem e começa a desconfiar, com a ajuda de Elijah (Jackson), que possui algo que o diferencia das outras pessoas. O desenrolar de descobertas posterior a este acontecimento faz emergir uma série de questionamentos na cabeça do espectador, sendo "como ele não percebeu isso antes?" o principal deles. Em outros momentos, o roteiro chega a ser esquemático (a parte em que Dunn cai na piscina foi a que mais me evidenciou isso). O final surpresa é um ótimo tempero para a obra no geral, mas aqui ele não chega a causar um impacto tão forte como foi em "O Sexto Sentido".

Portanto, mesmo com uma ótima atuação de Willis, uma apurada parte técnica, um interessantíssimo argumento e o final surpresa, "Corpo Fechado" se apresenta como uma obra menor (ainda assim muito boa), ainda mais quando posta ao lado de "The Sixth Sense". Essa comparação pode até parecer injusta, mas como disse no começo no texto, acaba sendo inevitável e justamente por isso sua recepção entre os críticos e espectadores foi tida com certa dose de decepção. 

17/11/2014

Vamos respeitar a fé alheia. Amém!

Como todos sabem, sou um ferrenho defensor das liberdades individuais e religião faz parte desse conjunto. Cada pessoa tem o direito de seguir e acreditar naquilo que quiser e/ou se identificar. O problema é quando a pessoa passa a interferir na liberdade de outrem.

Uma pessoa conhecida, católica, ganhou um pingente de uma santa e o utilizou para ir ao trabalho. Chegando lá foi duramente criticada por colegas evangélicas que disseram que a religião dela estava errada e que precisava conhecer a única religião "correta".  Infelizmente acontecimentos como este não são raros em nossa sociedade. Enquanto em determinados países a religião continua sendo motivo para guerras sangrentas, aqui temos uma guerra de preconceitos, intolerância e arrogância, o que considero tão pior quanto.

Se pesquisarmos fica fácil encontrarmos vídeos ou notícias de pastores evangélicos que ironizam outras religiões, sendo que alguns até mesmo chutam estátuas de santos e queimam livros de outras denominações e também de grupos que entram em igrejas católicas ou templos de outras religiões e praticam vandalismo no local e por aí vai. A tirania de certos integrantes da religião evangélica fica ainda mais evidente quando observamos a imposição de seus dogmas e ideologias dentro da política. Além de tudo isso, existem aqueles famosos líderes de determinadas igrejas protestantes que comercializam a fé de maneira escancarada.

Quando paramos para refletir em todas essas atitudes mencionadas fica fácil entender o motivo de haver tanta crítica e hostilização aos evangélicos por praticantes de outras doutrinas (inclusive os não praticantes, céticos). Quem planta intolerância, colhe intolerância. O que deve ser combatida é a generalização, pois existem muitos evangélicos que sabem respeitar e não invadem o limite individual de cada um, mas o fato é que os protestantes são os que mais discriminam e julgam a vida alheia. Sem falar que a própria denominação evangélica é rachada: se um pastor ou um simples seguidor da religião tem uma visão um pouco diferente, vários evangélicos falarão que ele é farsante e não é um "verdadeiro crente" (um exemplo mais recente é a declaração que o Pastor Caio Figueiredo deu no programa The Noite, do SBT, com relação aos homossexuais e prostitutas. Procurem no YouTube e leiam os comentários).

O irônico é quando o opressor tenta se fazer de oprimido. "Sofremos crentofobia! Estamos sendo discriminados!". Como já disse, não digo que os evangélicos tenham que aceitar a generalização, mas sim fazer uma reflexão e parar para pensar nas atitudes de vários membros da religião. A liberdade individual da religião tem de ser respeitada, mas a sua imposição é algo inadmissível. Eu tenho o direito de crer e seguir no que eu quiser, você tem o mesmo direito. Simples assim.

Logicamente, existem também católicos que desrespeitam gratuitamente outras religiões e impõe suas ideologias  e dogmas para a sociedade, mas aqui no Brasil e em outros países é evidente a dominância do desrespeito vindo por parte de evangélicos. Para acabar com a "crentofobia" só uma atitude vinda dos próprios crentes seria necessária: respeitar a crença do próximo. E antes que venham falar de liberdade de expressão, deixarei claro alguns pontos. O principal é que intolerância religiosa no Brasil é crime, mas infelizmente a Constituição é pouco utilizada para tal. O segundo é que, como todos sabem, a liberdade de expressão não é um direito pleno, portanto quando você fala o que quer é preciso aguentar as consequências do que foi dito. O terceiro e último ponto que vou ressaltar é a empatia: imagine, por exemplo, um espírita chegar em você e dizer que a sua religião está errada e que você precisa urgentemente ir a um centro espírita. Aposto que você não iria gostar, certo? Então saiba que quando você impõe suas visões religiosas a outras pessoas, elas também não gostam.

Existem dezenas, centenas ou, sei lá, milhares de religiões mundo afora. Querer discutir qual a única é a certa além de ser irrelevante (você segue determinada religião é óbvio que a julga como certa, assim como seu vizinho, seu chefe, seu tio, o padeiro)  é muito perigoso. Já parou para pensar na quantidade de vidas que já foram dizimadas por luta religiosa? E mesmo quando não há derramamento de sangue, já percebeu o quanto viveríamos melhor em sociedade se soubéssemos respeitar o quadrado do próximo?

"Fazemos isso pois queremos a salvação de todos!"
A salvação da sociedade só é possível perante a quebra de preconceitos, respeito e tolerância. Ao invés de querer levar seu parente espírita, ateu ou umbandista para sua igreja, olhe mais para você e tente fazer o bem de outra maneira. Afinal, o que mais se tem no mundo são pessoas famintas, crianças sem a alegria de ter um brinquedo, animais abandonados e por aí vai.

30/10/2014

Sejam bem-vindos à Monalândia! [AS CRÔNICAS DE MONALÂNDIA - PARTE 1]

15 de Janeiro de 2130.

Monalândia é uma terra feliz. Foi o primeiro país LGBT do globo.

Monalândia foi fundada em 2014 com base na ideia de um vereador de um país chamado Brasil. A nação se desenvolveu numa ilha isolada do Oceano Atlântico. Doze casais gays e doze casais lésbicos foram enviados para lá para que a experiência proposta pelo vereador fosse aplicada.

A experiência era simples: consistia em isolar "pares" (pois segundo ele casal era só entre macho e fêmea) homossexuais na remota ilha e voltar depois de 80 anos. Segundo a teoria do vereador, não iria existir mais ninguém vivo. Um famoso filósofo da época tinha dito: "Aparelho excretor não reproduz!" e o idealizador da experiência acreditava fielmente nesse grande pensador do século XXI.

"Eu não estarei vivo quando a experiência chegar ao seu fim, mas o que importa é que o mundo terá a comprovação que GAYS não conseguem procriar e darem continuidade para a raça humana!". Tal frase dita pelo vereador na época aparece no vídeo mais acessado pelo HomoTube, "A Experiência da raça Hetero mais fracassada da História!".

O maior erro do vereador e que colaborou diretamente para o fracasso da experiência foi subestimar a inteligência dos homossexuais enviados para a ilha.

Ao chegar na ilha, os 48 homossexuais começaram a traçar um plano de sobrevivência.

Dos 24 gays, 20 eram graduados e das 24 lésbicas, 21. Haviam 5 formados em Engenharia Civil , 10 em Medicina, 4 em Veterinária, 4 também em Administração, 8 em Arquitetura, 3 em Química etc... A ilha fornecia frutas, riachos, uma grande variação de rochas, de árvores... Não demorou muito para aquele pequeno grupo LGBT traçar estratégias explorando toda aquela vasta paisagem. Passados quatro anos todos os casais já possuíam suas respectivas casas, formando o que deram o nome de Vila Santa Gaga. E que casas luxuosas eram aquelas! A força da união daquelas gays primatas e inteligentes foi algo magnífico. Quando adoeciam, os formados em medicina davam conta do recado em suas respectivas residências. Auxiliados pelos químicos e botânicos não demoraram para desenvolver uma gama de medicações, naturais ou não, de eficiência até maior do que os que eram desenvolvidos pelos héteros no restante no mundo. Como os homossexuais formados em medicina eram um tanto amargos, não se tardou para que se cansassem de bancar os anfitriões dos enfermos e se reuniram para construção do Saint Wyllys, o primeiro hospital de Monalândia.

Todavia, o momento mais importante da história de nosso país foi exatamente o que fuzilou a experiência do vereador: os casais, ao se sentirem solitários em seus devidos lares, começaram a desejar por filhos. A frase proferida pelo grande pensador martelavam na cabeça deles. "Órgão excretor não reproduz!" Mas havia uma esperança: os formados em medicina! E foram as 6 lésbicas e os 4 gays médicos que aplicaram o método de fertilização in Vitro. Todos os gays e lésbicas concordaram da doação de seus materiais reprodutivos. Os materiais não eram identificados para não ocorrer nenhum tipo de problema. A maioria das lésbicas também não viram problema em serem barrigas solidárias para os casais gays. 

Com o passar dos anos, a população de Monalândia foi crescendo, o que fez o vereador, que monitorava tudo por satélite, se suicidar devido o peso de fracasso e outros homossexuais e simpatizantes espalhados pelo mundo doarem tudo o que era possível para a população daquela nova nação.


E assim foi até que Monalândia se tornou um país como qualquer outra do primeiro mundo. Foram usados apenas 15 anos para que se tivessem casas, prédios, comércios, hospitais, carros...

Ah claro, surgiram organizações políticas, moeda, etc....

[Algo que ciência não explicou até hoje é que 90% dos que nascem em Monalândia, desde sua origem, são homossexuais. Uma lenda local diz se tratar de uma maldição jogada por um líder religioso brasileiro que sempre dizia em sua época: "filhos que são criados por gays, se tornam gays!". Assim, os heterossexuais eram minoria na Ilha, mas não deixavam de receber amor dos seus pais.]


País: Monalândia
População: 9.223.678 (segundo o IPBey - Instituto de Pesquisas Bey)
IDH: o mais elevado do mundo
Moeda: Gaga
Língua: Português e francês
Governo: Monarquia anarquista liberalíssima
Atual trono: Rei Kaio e Rei Thiago.
Série Clássica mais assistida: Glee, empatado com GoT.

Bandeira do país



Moeda oficial 


Agora que vocês conheceram Monalândia aguardem os próximos capítulos que contarão não só as maravilhas, mas também os problemas presentes em qualquer outra nação.


29/10/2014

Reféns do Bolsa Família?



- Bolsa Família virou uma espécie de voto de cabresto.

- Como assim? Me explique melhor.

- Quem é beneficiário do Bolsa Família se tornou refém do Governo que a criou. Li uma frase interessante no face sobre isso: "Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado.".

- Mas você não deixa de ser um refém, também...

- Como? Não sou bolsist....

- Refém do Sistema, oras. Você trabalha seis dias por semana, tem que acordar cedinho para cumprir seu expediente de 10 horas diárias, que na verdade se transformam em 13 horas devido ao trânsito caótico, sofre pressão desumana de seus superiores para produzir e dar lucro para a empresa e no final do mês recebe um salário de mil reais. Sem falar que boa parte desse dinheiro é comido por impostos. Sim, você trabalha 5 meses por ano só para pagar impostos! E você aceita isso.

- Claro que sim! Desde quando ser trabalhador é motivo de vergonha? Pelo contrário, o trabalho edifica o homem!

- Talvez digas isso pelo fato de morar com seus pais e não ter despesa como aluguel ou parcela de financiamento, conta de água, luz, internet, telefone, gás, compra do mês... Com mil reais não se faz nada. Pense: você se mata para trabalhar e assim como a maioria dos brasileiros ganha um salário irrisório.

- Mas pra isso tem a meritocracia, cara! Vou crescer e vou ter o reconhecimento merecido.

- Sua postura até que está certa nesse ponto, mas você realmente crê em meritocracia?

- Também agrado meus superiores...

- Puxa o saco!

- É... quase isso.

- Então você está indiretamente assumindo que a meritocracia é uma farsa, pois é necessário bajular para crescer. Além disso, ao tomar tal atitude você acaba sendo injusto com um colega de trabalho que supostamente pode estar exercendo melhor o trabalho, ou seja, o verdadeiro merecedor.

- Larga a mão de ser petralha rapaz! Então seu discurso prova que o atual governo é péssimo.

- Os problemas do Brasil vêm de séculos, amigo. Heranças malditas da História, antiga ou recente, não se podem apagar de uma hora para outra. O atual Governo não é mágico para isso. Mesmo tendo diversas críticas contra a atual gestão reconheço os acertos dele. O Brasil vem evoluindo no combate às desigualdades sociais e recentemente saiu do mapa da fome. Isso se deve muito ao Bolsa Família.

- Bolsa Esmola, Bolsa Vagabundo.

- Não seja tão pequeno. Quem sustenta a vida de um filho com menos de cem reais por mês?

- Tem gente com um montão de filhos...

- O benefício máximo por família é de duzentos e trinta reais. Você ainda não percebeu que as marionetes são, na verdade, as pessoas como você? Aceitam ser "peões" para garantir uma mão de obra barata para as empresas, defendem que a polícia tem que reprimir com violência as manifestações que clamam por uma sociedade mais questionadora, intelectual e politizada, gritam que bandido bom é bandido morto, lutam contra o socialismo sem sequer saber sobre ele... Talvez sejas ingênuo demais a ponto de não perceber que é exatamente assim que os capitalistas, políticos pró-capital e até mesma uma grande parte da mídia quer que a gente pense e haja: para benefício deles próprios!

- Vá morar em Cuba!

Sorria, você está sendo caluniado!

Tutorial de como se criar uma calúnia:

1. Pense em alguém que você queira caluniar;

2. Pegue uma foto desse alguém;

3. Abra um editor de imagens;

4. Invente uma frase jamais dita por esse alguém e coloque-a entre aspas na foto da vítima. De preferência, logo abaixo da frase insira o nome completo da pessoa para não restar dúvidas;

5. Compartilhe na internet. 95% das pessoas acreditarão.


Infelizmente o tutorial acima funciona. A quantidade de calúnias que se espalham pelas redes sociais hoje em dia é assustadora. Mais assustador ainda é observar o número de pessoas que acreditam nessas mentiras e colaboram ainda mais para a viralização das mesmas.

O bom senso nos obriga a pesquisar fontes confiáveis antes de acreditar em qualquer fato exposto na web. A internet é uma ferramenta excelente para compartilhamento de informação e conhecimento, mas é também espaço para muitas mentiras e mal feitos. Apesar dessa mesma internet oferecer a facilidade de investigação e apuração, boa parte dos internautas não sabem ou  não fazem questão de desfrutá-la.

A tendência de uma pessoa acreditar numa calúnia é maior quando o alvo é alguém que ela deteste. A raiva faz o subconsciente da pessoa acreditar numa falácia sem qualquer questionamento.

Outro fator ligado a isso é o da manipulação sensacionalista da mídia, onde pessoas tiram suas conclusões com base apenas em manchetes sem sequer se preocuparem em fazer a leitura das matérias por completo. Esses dias, por exemplo, me deparei com uma notícia em um portal no Facebook que se intitulava "Foi descoberto que ambulâncias da prefeitura de SP eram utilizadas por chefes do PCC". Ao abrir a reportagem, li que o ocorrido foi entre os anos de 2004 e 2007. Porém a ausência da data na manchete aliada com a preguiça da leitura de muitos internautas renderam comentários de protestos contra o atual prefeito, Fernando Haddad.

Quando se tem uma sociedade composta por grande número de analfabetos funcionais fica fácil disseminar mentiras. A internet, ao reunir milhões  que se enquadram neste perfil, se tornou um prato cheio para pessoas de má índole e um meio a mais de manipulação de massa.


A própria CBN divulgou uma nota repudiando essa calúnia contra o Dep Jean Wyllys. O mais triste é que mesmo assim até hoje essa mentira é compartilhada e levada a sério por milhares de pessoas.

Arnaldo Jabor nunca disse essa frase. O próprio jornalista desmentiu essa e outras falácias em uma publicação.






26/10/2014

Aos que falam mal do Nordeste: Se olhem para o espelho e sintam-se envergonhados!

Como já esperado a vitória de Dilma nas urnas culminou em infinitas publicações odiosas contra o povo nordestino nas redes sociais.

Eu, como paulista, vou dar um recadinho para vocês:

Sintam-se envergonhados ao se olharem no espelho. Nordestino não é um povo burro, mas sim um povo bravo, forte e guerreiro. Se nós, aqui do Sudeste reclamamos com uma seca de meses, os nordestinos sofrem com esse problema há décadas. Sabem essas milhões de vagas de emprego que se tem aqui mais embaixo no mapa? Pois é, lá a situação é bem diferente. Sabe a fome e a miséria? Lá o número de vítimas é bem maior do que aqui. Enquanto vocês despejam seus discursos xenofóbicos e odiosos fazendo o uso da internet e aparelhos eletrônicas, saibam que tem muito nordestino que nem rede elétrica ainda possuem em suas residências. Enquanto vocês que matavam ou matam aulas por motivos fúteis, saibam que milhares de crianças nordestinas ainda não possuem sequer acesso à escola.

A condição de vida dos nordestinos, felizmente, melhorou e muito nos últimos anos, mas a Região ainda carrega o pior IDH do Brasil. Tudo isso foi um reflexo do descaso que outros governos tiveram com o Nordeste ao preferirem polarizar suas principais propostas nas regiões mais burguesas e populosas do país. Esse esquecimento foi extinto quando o PT assumiu o Brasil e olhou a região mais carente de nossa nação com melhores olhos. O Bolsa Família, que vocês apelidaram de Bolsa Esmola ou Bolsa Vagabundagem, foi só uma das benfeitorias do governo petista ao Nordeste. Não vou entrar no mérito aqui, mas se quiserem deem uma breve pesquisada na Internet para acompanhar as outras políticas que beneficiaram a região.

Aliás, criticar o Bolsa Família é de uma ignorância e maldade terríveis. Achar que uma família se tornará vagabunda por receber R$77,00 mensais é o cúmulo da falta de raciocínio e de bondade para com quem mais precisa. Quem sustenta uma família com esse valor? Não dá nem para debater sobre esse assunto com ninguém... E o que mais me irrita é ver cristão criticando essa pequena ajuda do Governo aos mais carentes. Cadê a coerência? Cadê a compaixão? Muitos doam dinheiros às igrejas sem ter certeza para que fins esse dinheiro será utilizado (na maioria das vezes só enriquecem os mercadores da fé mesmo) e se curvam aos que mais precisam. Muitos carregam um livro sagrado embaixo dos braços, mas ignoram ao passarem por um faminto jogado na rua. É triste ver tamanha hipocrisia, ignorância, maldade e preconceito que um ser humano é capaz de carregar.

Só para concluir: vivemos num país democrático e o Nordestinos continuarão tendo peso nas eleições e suas opiniões e convicções merecem todo o respeito. Se eles são fiéis ao PT é devido o fato de nunca terem a atenção merecida de outros governos.

Posso ter inúmeras críticas ao PT, mas como todo bom cidadão deveria ser reconheço suas qualidades e benfeitorias que ajudaram e muito não só o Nordeste, mas sim todo o Brasil nestes últimos anos. Vamos deixar nossa ignorância e arrogância de lado e vamos enxergar a beleza dos nordestinos, de sua cultura, de seus inúmeros talentos revelados e, principalmente, de sua bravura ao enfrentar obstáculos sociais terríveis. Acima de tudo: vamos ser mais humanos!


24/10/2014

[Crônica] O Homem Que Amava as Coisas

Roberto abriu a porta da sala que dá acesso ao abrigo e correu abraçar seu carro:

- Não vou deixar que ninguém faça um risquinho sequer em você, amor!

"Smack, Smack"

É um hábito dele dar dois beijos no carango antes de começar a guiá-lo.

Parado no semáforo, Roberto sacou seu smartphone e o trouxe até seu peito, apertando com força.

- O que eu seria sem você, parceiro?

"Smack, Smack"

Sim, os dois beijos também é um ritual que nosso amigo leva a sério para todos os seus amores.

Chegando ao serviço se deslocou até a cozinha e apertou o polegar da copeira. Dois minutos depois uma bela xícara de café fora entregue nas mãos de Roberto.

Chegando ao seu escritório, girou a orelha de sua auxiliar. Logo depois ela começou a emitir os relatórios que ele precisava.

Terminado o expediente, Roberto lembrou que era dia de fazer visita à mãe. 

"Smack, Smack"

Deu partida novamente eu seu grande amor e dirigiu até chegar no apartamento de sua velha senhora. Apertou a campainha e a porta se abriu. Roberto encarou sua mãe e foi direto ao sofá.

- Poxa! Esse sofá é uma maravilha. . . Valeu a pena cada centavo investido nele.

"Toc, Toc"

A senhora sabia que duas batidas no braço do sofá era sinal que Roberto estava faminto. 

Enquanto a mãe caminhava a cozinha, Roberto tirou seu smartphone do bolso.

"Smack, Smack"

- Sinto muito, companheiro. Lançaram um modelo novo e serei obrigado a trocá-lo. Meu coração está apertado por isso, mas você achará alguém que irá lhe tratar com o mesmo amor e carinho que sempre ofereci para ti...

Depois de dois minutos, a velha senhora apareceu com um lanche e um refrigerante.

- Esse lanche está com gosto estranho. A senhora ficou desregulada, hein? Acho que precisa passar um óleo em suas mãos. Quem sabe não volte a funcionar.

Não demorou muito para que Roberto voltasse ao seu carro.

"Smack, Smack"

Chegando em casa, dirigiu-se até sua televisão de 50 polegadas que havia adquirido há poucos dias.

"Smack, Smack"

- E aí, minha querida, como foi seu dia? Vejo que pegou uma poeirinha. Deixo pegar um paninho e dar um trato em você.

E a TV ficou novamente brilhante.

- Agora sim, amor!

Assistiu o telejornal com indiferença para com as notícias dos atentados que haviam matado milhares de pessoas naquele dia.

Quando viu, da sala, sua esposa deitada no quarto, Roberto falou para o amor de tantas polegadas:

- Vou te abandonar agora... Está na hora de brincar um pouquinho de prazer.

Roberto fitou pela última vez sua mais nova xodó e se locomoveu ao quarto para fazer o bom uso de sua esposa. Depois de chegar no ápice, deixou seu corpo cair no outro lado da cama e entrou em sono profundo.

Ao amanhecer do dia seguinte, Roberto acordou e foi logo ao banheiro. Ao se olhar no espelho levou uma baita susto. Aquele espelho caro estava com várias manchas de pasta de dente!

"Smack, Smack"

- É absurdo que eu tenha te ignorado por tanto tempo! Não serei mais ausente em tua vida!

23/10/2014

[Crônica] Pedro e o Sofá

Pedro é um trabalhador e pai de família. A breve narrativa a seguir descreve um dia corriqueiro em sua vida.




São seis horas da manhã em ponto. O alarme do celular começa a tocar conforme o programado. Pedro dá um salto da cama e corre ao banheiro. Após se aliviar, escovar os dentes e se arrumar, agora se dirige à cozinha. Sua esposa, Lúcia, que acordara meia hora antes, já havia preparado o café. Pedro arrasta a bruscamente a cadeira e se senta para tomar aceleradamente seu café-da-manhã.

- Não entendo o motivo de se escovar os dentes antes do café. Do que adianta? - retrucou a esposa.

- Isso é um comportamento automático, querida. Cresci com esse padrão. Agora me deixe tomar o café pois já estou me atrasando.

Em menos de dois minutos, Pedro já havia engolido o pão francês com manteiga e seu copo habitual de pingado. Levantou da cadeira, voltou ao quarto, pegou a chave do carro e correu para dar partida no seu popular.

Enquanto percorria até o seu trabalho, preocupações sondavam a mente do pai de família. Seu salário apertado o sufocava e mal dava para pagar o financiamento do carro, aluguel da casa e as contas básicas como luz, água, internet e supermercado. Mesmo formado, Pedro percebera que diploma de ensino superior não valia mais do que antigamente e seu sangue ferveu ao lembrar do seu irmão, que mesmo só estudado até o Ensino Médio, tinha uma empresa de informática e lucrava o dobro, ou mais, do que ele.

"Essas faculdades de hoje só pensam no lucro. Diploma virou apenas negócio."

Tal frase martelava em sua mente há tempos.

Pontualmente chegando na empresa, Pedro é abordado pelo seu chefe.

- Sabemos que você pode mais que isso, Pedro.

- Sim. - respondeu com certo tom de irritação.

- Os lucros da empresa caíram mês passado e precisamos recuperar agora. Para isso vou precisar que você faça hora extra e venha trabalhar aos finais de semana. A empresa precisa e você e você dela.

- Aproveitando, Geraldo, eu preciso de um pequeno aumento de salário. Estou meio no vermelho, sabe? Não estou dando conta de pagar as prestações do meu carro, minha conta tá negativa e correndo juros bancários e estou tendo de negar guloseimas que meu filho pede no mercado...

- Tudo virá no tempo certo, Pedro. Você faz um grande trabalho e um dia será recompensado. Pode ter certeza disso.

Ao sair da vista do chefe, Pedro deu um suspiro que misturava ódio e desesperança. O tal "tempo certo" vem saindo da boca de seu chefe há quase dois anos.

Na hora do almoço, na parte externa da firma, Pedro senta-se ao lado de seu melhor colega, Thiago, às sobras de uma grande e bela árvore.

- Sabe, Thiago, a vida é uma grande merda!

- O que aconteceu desta vez?

- Às vezes me pergunto se somos humanos mesmo ou robôs de carne e osso. Parece que nossa vida é destinada a cumprir padrões desde o momento que nascemos. Padrões naturais e outros padrões que se tornaram naturais. Temos de estudar, se formar, trabalhar, se casar, ter filhos, envelhecer e morrer sem, ao menos, fazer algum feito importante. Nossa existência pode ser comparada com a de uma barata ou qualquer outro bicho asqueroso.

- Que isso, Pedro. Pensar deste jeito não vai te ajudar em nada.

- Aceitar tudo isso também não vai, parceiro. Estou de saco cheio deste lugar. Os donos enxergam nós como simples máquinas de dar lucros. Eles adoram cobrar prontidão de nossos deveres, mas essa mesma prontidão não existe quando pedimos nossos direitos.

- Qualquer empresa é assim, cara. A gente pode encontrar um dom ou abrir um próprio negócio. Nada melhor do que a gente ser o chefe.

- É tão fácil que 95% da sociedade não consegue chegar nesse ponto. Abrir algo demanda muito dinheiro e não consigo poupar ganhando tão pouco e tendo tantas dívidas. É um buraco sem fundo.

- Vamos parar de pensar assim. Otimismo. Vamos tocando dia após dia com determinação que chegaremos a conquistas nossos sonhos!

- Credo, Thiago. Você está parecendo nosso chefe. É assim mesmo que o topo da pirâmide quer que a gente pense.

Terminado o horário do almoço, nosso pai de família trabalha o restante do expediente com a cabeça bem longe dali.

- Querido, isso são horas?

- Não me enche, Lúcia.

- Lúcia? Você nunca me chama pelo nome, o que está acontecendo?

- Trabalharei fora do horário durante esse mês todo. Para variar a empresa teve lucros reduzidos e nós, os peões, teremos de nos matar para enriquecer ainda mais o dono daquela merda. Enquanto isso, aqui estou nessa merda de vidinha padrão, mal conseguindo pagar as contas em dia. Cadê minha vida social? Na lata do lixo!

- Merda de vidinha padrão? Você está me ofendendo, seu grosseiro!

Pedro acenou negativamente com a cabeça e se esticou no sofá da sala.

- Todos nós vivemos numa merda de padrão. Não se ligou que somos instrumentos de lucro dos políticos e empresários? Temos de produzir, produzir e produzir e aceitar migalhas em troca. Grande partes das migalhas vai para pagar impostos ao governo... E cá estamos, endividados e numa vidinha medíocre.

- Ao invés de ficar se lamentando poderia fazer acontecer. Buscar mudanças... Mas prefere ficar aí relinchando. Na hora que você entrar em depressão quero ver...

- A vida já é uma depressão, amor. Cadê o Michael?

- Foi na festa da aniversário do filho do nosso vizinho Otávio.

Lucia sentou-se no outro sofá e apanhou o controle remoto. Estava na hora de sua novela.

- Não sei como você gosta de assistir essas porcarias.

- Nossa, fique na sua e pare de pegar no meu pé.

- Já parou de pensar que está sendo mais uma marionete do padrão de vida social? Você só assiste essas porcarias de novelas, programas de fofocas e ainda acessa a internet para também ver fofocas. O que a vida de pessoas ricas possui a ponto de deixar pessoas como você tão obcecadas por elas? Enquanto esses famosos estão ricos e sequer sabendo de sua existência, você fica babando ovo pra eles. Lamentável.

- São pessoas famosas e ricas, infelizmente ao contrário de você, Pedro. Você é tão acomodado que reclama da porra de seu trabalho todo o santo dia, mas não vai atrás de coisa melhor. Um banana. Foi com isso que me casei, um banana!

- Não temos nada a mais do que a necessidade de buscar uma contínua evolução através do conhecimento. Somos reféns desse sistema, Lúcia. 95% dos homens são bananas. Não temos como escapar. Ficar o dia inteiro cuidando da vida de pessoas que sabem que você existe é o cúmulo do ridículo.

- Assim que eu conseguir matricular o Michael na escolinha, irei procurar um emprego. Você exagera, Pedro. Me ofende.

Àquela altura, Lúcia perdera a vontade de assistir sua novela e saiu batendo os pés em direção ao quarto. Minutos depois, Michael apareceu na porta guiado pelo vizinho. Pedro e Otávio trocaram breves cumprimentos e logo se despediram.

- Oi papai!

- Oi filhão! Como foi seu dia?

- Foi legal. Cadê a mamãe?

- Já está dormindo.

- Papai, estava conversando com outras crianças... Vai demorar muito para eu virar adulto?

- Torça para que sim, meu lindo. Se pudéssemos, todos nós, os adultos, viveríamos a magia da infância para sempre. A vida adulta é um saco. É quando se torna adulto que o mundo fica menos colorido. Então trate de aproveitar essa infância ao máximo, campeão!

- Tá bom, papai. Vou deitar com a mamãe.

- Tudo bem, boa noite! - disse acariciando a cabeça do filho.

- Você não vem?

- Não. Papai vai dormir aqui no sofá hoje e não vai ser agora.

"Não gosto de dormir cedo. Já passo a maioria do tempo trabalhando e dormir seria encurtar ainda mais minha vida social, mesmo que esta não seja algo considerado como excepcional. Esse manual da vida, com direitos e deveres, esse show de padrões que afunda a vida de qualquer ser que seja, propriamente, racional deveria ser queimado. As pessoas gostam de apontar o que podemos ou não fazer, como se fossem donas de nossas vidas. Se tem algo que concluí nessa vida é que isso de "certo e errado" é totalmente relativo. Talvez deveríamos a cultivar mais o amor por nossas pessoas queridas, embora a vida não seja muito virtuosa nesse setor, também. Desde cedo somos obrigados a conviver com a saudade de pessoas queridas que se vão e logo, quando partirmos, também deixaremos as pessoas nos amam com saudade. A aceitação é uma estratégia deprimente de vida, porém necessária. Existe uma força maior que nossos anseios. Uma força que não dá trégua e que nos rebaixa a meras peças de um tabuleiro chamado existência. Peças estas que são frequentemente trocadas ao longo do tempo. Com o tempo aprendi que sou insignificante demais a ponto de querer rotular, julgar ou apontar o dedo para outras pessoas. Toda essa subjetividade não faz sentido algum. Sei que dias, como o de hoje, se repetirão e talvez eu não seja forte o suficiente para correr de tal acomodação, mas me dou o direito de conviver com essa realidade que me dá o dever de não me entregar às futilidades como a maioria das pessoas. Boa noite a todos!"

Após fazer tal publicação, Pedro fechou seu notebook e ficou inerte, deitado e olhando para o teto, esperançoso que o sono o acometeria em instantes. Sentiu-se mais confortável após o desabafo. Como o sono não veio, minutos depois abriu novamente o notebook e navegou até seu perfil na rede social. Um amigo tinha comentado o seu texto.

"É meu caro amigo. . . O excesso de realidade corrói a alma de uma pessoa. Tenha uma boa noite, também! Abraços!!!"

Algumas lágrimas correram por suas bochechas. Nem o próprio Pedro sabia ao certo quais os sentimentos passavam por sua mente. Mais uma vez sentiu-se como um cisco diante do tamanho do universo e da existência. A única certeza que tinha é que, por mais tempo que vivesse, muitas perguntas ficariam sem respostas.


"Decifrar a vida é o melhor caminho para a insanidade. Agora sim, boa noite!" - treplicou.

Demorou mais alguns minutos conseguir pregar os olhos. Mais um dia da vida de Pedro chegava ao fim. Os dias poderiam acabar, mas as incertezas jamais.






20/10/2014

Maioria x Minoria



Nenhum embate entre maiorias e minorias se sustenta.

A sociedade é um sistema tão complexo e diverso que faz com cada indivíduo seja, ao mesmo tempo, maioria e minoria em diferentes questões.

Fulano é heterossexual, portanto maioria no quesito orientação sexual; o mesmo Fulano é ateu, o que faz dele integrante de uma minoria no âmbito religioso.

Ciclano é cristão, maioria religiosa; Todavia ele é bilionário, minoria econômica.

Com esses exemplos minúsculos podemos ter uma noção acerca da relatividade do assunto.

Quando um candidato a presidência trouxe à tona a expressão “a maioria tem que enfrentar essa minoria” tivemos várias pessoas que o apoiaram, o que é perigoso. Quando as eleições terminaram com tal candidato tendo 0,4% dos votos válidos, teve-se a prova que ele mesmo representa uma minoria de eleitores.

O reconhecimento da pluralidade social é essencial para vivermos em regime de paz e respeito. Nenhuma minoria deve se curvar para uma maioria, pois, como vimos, ninguém é plenamente uma minoria ou maioria. São rótulos desgastados utilizados para sustentarem visões fascistas e totalitárias. O pior é que há quem defenda que a democracia seja opressão às classes minoritárias.

O problema do ser humano é seu incessante desejo de se sentir superior. A segregação da sociedade é a melhor prova do quanto a humanidade é frágil e infantil. Enquanto os homens disputam poder, não percebem o quão insignificantes são se comparados à grandeza de todo o universo.

A única maioria que deveria ser combatida é a de ignorantes. Mas calma, esse combate tem de ser com conhecimento. Infelizmente é um combate falido, pois a maioria dos governos se interessam por esses conflitos civis, pois tiram a atenção dos poderosos enquanto os mesmos mantêm e ampliam seus interesses próprios. Afinal a ignorância sempre foi e será a melhor arma para controle dos reféns do sistema.


15/10/2014

Os bons são os loucos



Conversando e vendo comentários em portais da Internet percebi que a maioria da população considera Luciana Genro uma louca.
Infelizmente a ignorância e acomodação, especialmente política, parece estar no DNA do brasileiro. Tem muita gente que só lembra da política em época de eleição, mas sequer possui vontade de acompanhar as decisões políticas do país.
O que mais vemos são pessoas reclamando da situação política (social e econômica) que o Brasil enfrenta, mas são essas mesmas pessoas que optam por continuar elegendo os mesmos políticos e os mesmos partidos.

Quem vem com um discurso diferente, como o caso de Genro, que propõe um debate mais amplo sobre assuntos delicados e uma mudança radical para a política econômica, se opondo claramente às politicagens de trocas de favores entre grandes partidos e empresas do setor privado, enfrenta uma forte rejeição e inflamados discursos de ódio. O pior é que não conseguem uma argumentação válida para essa oposição. Louca, despreparada, comunista... são apenas tais vagas rotulações que a carência do intelecto dessas pessoas consegue produzir.

É como quem reclama do emprego, mas não muda de empresa. É como se encontrar em baixa estima por estar fora do peso e não buscar fazer uma dieta e exercícios físicos. É como quem reclama de uma prestadora de serviço mas permanece com o contrato.

Infelizmente a lavagem cerebral midiática e governista faz emergir uma sociedade de marionetes sem opiniões próprias e predestinadas a atenderem os desejos de continuidade do poder daqueles que estão no topo da pirâmide.

Quando quem se coloca ao lado do povo e contra a exploração capitalista é tido como um louco vilão pelo próprio povo, temos a certeza do êxito dessa corrente da ignorância e manipulação.

Encerro com uma frase de Raul Seixas: "A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal".


09/10/2014

Relação entre IDH e políticas pró-LGBT

[Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de "desenvolvimento humano" e para ajudar a classificar os países como desenvolvidos (desenvolvimento humano muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto) e subdesenvolvidos (desenvolvimento humano baixo). A estatística é composta a partir de dados de expectativa de vida ao nascer, educação e PIB (PPC) per capita (como um indicador do padrão de vida) recolhidos a nível nacional. Cada ano, os países membros da ONU são classificados de acordo com essas medidas. O IDH também é usado por organizações locais ou empresas para medir o desenvolvimento de entidades subnacionais como estados, cidades, aldeias, etc.]Fonte: Wikipedia.

IDH, como o próprio nome diz, é um índice utilizado para medirmos o grau de desenvolvimento dos países, considerando educação, distribuição de renda e expectativa de vida ao nascer.
O estudo que fiz se baseia na relação entre o desenvolvimento dos países e políticas pró-LGBT. Como já esperava, os países mais desenvolvidos são aqueles que o cidadão LGBT mais possui direitos.

Abaixo segue a síntese de meu levantamento. Se você quiser acesso ao estudo detalhado, clique nesse link.
Considerações:


Entre os 50 piores países em IDH:

- a homossexualidade é ILEGAL em 60% deles, podendo, inclusive, resultar em prisão perpétua ou pena de morte;
- mesmo nos outros 40%, apesar de não ser considerada crime, qualquer política pró-LGBT como união civil, adoção ou proteção legal é inexistente.

Entre os 50 melhores países em IDH:

- a homossexualidade é LEGAL em 86% destes países;
- a união civil é regulamentada em 56% deles;
- o casamento igualitário é permitido em 28% deles;
- a adoção de crianças é legal em 34% deles;
- em 72% deles possuem leis anti-discriminatórias contra homossexuais.

Os números positivos ficam mais evidentes se considerarmos apenas os 20 países mais desenvolvidos do mundo:

- em 95% deles a homossexualidade é legal;
- em 75% a união civil é regulamentada;
- em 45% o casamento igualitário é direito;
- em 55% é permitido que casais gays adotem crianças.

Cabe salientar que dentro desses países, várias políticas pró-LGBT estão em discussão. A tendência é que essas porcentagens aumentem nos próximos anos.

Contra fatos não há argumentos. Vejo muita gente dizendo que políticas pró-LGBT indicam ruína da família e da nação, mas isso é facilmente desmentido pelos números apresentados. Quanto mais desenvolvido e educado um país é, maior é a aceitação dos cidadãos LGBT's.
Quando alguém falar para você que esse país está cada dia pior por conta da aceitação e aumento da cidadania dos homossexuais, faça esta simples pergunta: "Você preferiria morar numa "Noruega, Suiça, Alemanha" ou numa "Serra Leoa, Etiópia, Afeganistão?".



*O levamento foi realizado com base nos dados disponíveis nos seguintes links:
Legislação sobre a homossexualidade no mundo
Lista de países por Índice de Desenvolvimento Humano

08/10/2014

4 Filmes que todo reaça deveria assistir.

Quem navega um pouquinho pela internet percebe a quantidade de jovens de Direita que temos hoje no Brasil. Esses famosos “reaças” parecem seguir um script:

  • Ser contrário a programas assistenciais, como o Bolsa Família, e chamar os beneficiários de vagabundos;
  • Defender a justiça cega, apoiando quem amarra bandido pelado em poste e agir de maneira irracional;
  • Defender a moral e os bons costumes;
  • Ser contra minorias, como no caso, dos LGBT's. “Não tenho nada contra gays, mas que fiquem bem longe da minha família”;
  • Apoiar atitudes extremistas dos policiais, como chegar na favela metendo bala pra todo lado;
  • Ser contra a legalização das drogas, pois a mesma fará apologia ao uso;
  • Ser a favor da vida e, portanto, ser contra o aborto;
  • Ser a favor da vida, mas a favor da pena de morte;
  • Aliás, falando em pena de morte, achar que atitudes como tal e outras como redução da maioridade penal e armamento da população “do bem”, resolverão o problema de segurança pública;
  • Seguir as páginas como Bolsonaro Zuero, TV Revolta e de heróis como Danilo, Raquel, entre outras;
  • Defender que todos possuam liberdade de expressão para atacar minorias;
  • Achar que racismo, xenofobia, machismo e homofobia são apenas vitimismos;
  • Defender a Ditadura Militar do Brasil e ser contra ideais socialistas por medo de uma ditadura comunista ser implantada por aqui.
Poderia fazer um manual aqui de como ser um reaça, vulgo coxinha. Mas chega. Vamos aos filmes, que todo mundo que se encaixa em tal categoria deveria assistir.

PS: Não é por acaso que amo o cinema. É uma arte completa e muitos cineastas a utilizaram e a utilizam para denunciar e criticar sofismas humanos.

Orações Para Bobby

(Prayers for Bobby, 2009,  Russell Mulcahy)

Belíssimo filme que retrata a homossexualidade do ponto de vista familiar e nos mostra como declarações tidas como não-homofóbicas podem sim destruir um ambiente familiar. Na política brasileira, temos o exemplo do Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ) que diz não ser homofóbico, mas proferiu pérolas como “Se eu tivesse um filho gay, em casa ele não pisaria mais”, “Ter filho gay é falta de porrada”, entre outras. Até mesmo os religiosos que pregam aos seus fiéis que a homossexualidade é pecado e não são obrigados a aceitarem.
No filme, Bobby é um jovem que descobre sua sexualidade e tem de enfrentar a mãe, uma religiosa fervorosa que não aceita a situação. Com a intenção de “curá-lo”, ela submete Bobby a terapias e ritos religiosos. Pressionado, o jovem comete suicídio e, tardiamente, a mãe arrependida começa a buscar o entendimento ouvindo o outro lado, fora de suas convicções religiosas.
O mérito da película é deixar bem claro que não é a homossexualidade que destrói uma família, mas sim a sua ignorância, a falta de comprometimento em conhecer o assunto. “Orações Para Bobby” é baseado em fatos e, infelizmente, trata a realidade de muitos jovens. Não é raro termos notícias de jovens como Bobby, que cometem suicídio por conta da rejeição familiar.



São frases como as de Bolsonaro e religiosos fundamentalistas que atentam contra a família e nada contribuem para a construção de uma sociedade decente. Homofobia não é só bater ou matar homossexuais, mas sim julgar a sexualidade sem conhecimento de causa e incentivar, direta ou indiretamente, agressões verbais e/ou físicas contra essas pessoas.







O Menino Do Pijama Listrado.

(The Boy in the Striped Pyjamas, 2008, Mark Herman)

 O filme do diretor Mark Herman é uma adaptação de livro homônimo que traz a visão pura de uma criança na Segunda Guerra Mundial. No caso, Bruno é filho de oficial nazista que assume um cargo importante em um campo de concentração, obrigando a família deixar a cidade, Berlim, para uma área bem isolada. Triste por ter de deixar seus amigos, Bruno passa a ter uma vida solitária. Quando vê, da janela de seu quarto há uma certa distância dali, uma “fazenda” com crianças e adultos vestindo o que ele chama de “pijamas”, o garoto resolve se aproximar do local. É aí que ele conhece Shmuel, um garoto judeu de mesma idade, com quem cria um forte laço de amizade, mesmo com uma cerca separando-os. Bruno mal sabe que ali, adultos e crianças como Shmuel, são torturados, escravizados e incinerados. O final do filme, que não vou contar, é um verdadeiro tapa na cara do ser humano. O mérito da película é o paralelo entre o mundo da infância e o mundo adulto. Enquanto uma criança alemã e uma criança judia desenvolvia uma amizade, os judeus eram tratados como lixo pelos adultos nazistas. Aliás, a frase de entrada do filme diz tudo: “A infância é medida por sons, aromas e visões antes de surgir a hora sombria da razão” John Betjeman.

- Por qual motivo você indica esse filme para mim? Eu sou reaça, mas sou totalmente contra o nazismo. Não tem nada a ver!!!!

Engraçado é que vejo muitas pessoas falando que são contra o nazismo, mas que são xenofóbicas, homofóbicas e até mesmo as que consideram defensores da Esquerda como seres inferiores. Cansei de ler comentários do tipo “esquerdistas deveriam ser eliminados”. São pensamentos muitos próximos aos dos nazistas.  

A Caça

(Jagten, 2012, Thomas Vinterberg)



Esse maravilhoso filme de Thomas Vinterberg mexe em várias feridas.
perda da guarda do filho. Conhecido por ser amigável com todos, a paz de Lucas termina quando uma menina da creche diz a diretora que ele a mostrou suas partes íntimas. Na verdade, a menina não sabe e nem possui noção do que está falando. Ao nutrir uma paixão infantil de Lucas e se sentir rejeitada, a menina apenas quis se vingar dele. Um pouco antes do ocorrido, o irmão mais velho da menina tinha mostrado uma imagem pornográfica para ela através de um celular, o que serviu como munição para a garota. Com a viralização da acusação e pela falácia de que criança não mente, toda a pequena cidade passa a hostilizar e agredir Lucas, mesmo sem nenhuma prova concreta do ocorrido. O principal mérito de Vinterberg é não esconder que Lucas é inocente e assim colocar o espectador em estado de terror e agonia, como o objetivo de fazer refletir profundamente a respeito de certas questões:

– Criança pode mentir sim, mesmo que seja de maneira inocente. Dependendo de como a criança é criada e do que ela ouve ou assiste, mesmo com pouca idade ela pode desenvolver certo nível de maldade;

– Uma acusação falsa, partindo tanto de uma criança ou de um adulto, pode trazer danos irreversíveis para a vida de uma pessoa;

- Duvido que alguém que tenha assistido ao filme continuou a favor da justiça com as próprias mãos. É inevitável não se colocar no papel de Lucas: já pensou ser acusado de algo que não fez e correr o risco de até morrer por isso?

Lembro que assisti esse filme pouco depois de uma jornalista dizer que é “compreensível” o povo fazer justiça com as próprias mãos. Foi impossível não fazer alusão com tal acontecimento.



V de Vingança

(V for Vendetta, 2005, James McTeigue)


Um filme que os conservadores odeiam. Por sinal é um filme muito raro de se ver na TV aberta aqui no Brasil. Os motivos são óbvios. Em um futuro próximo, o mundo vive uma crise e em guerra. O Reino unido se mantém estável no governo fascista e totalitário, comandado pelo Chanceler Adam Sutler. Muito parecido com o regime nazista, minorias como opositores, homossexuais e outros considerados inferiores são mandados para campos de concentração, onde não torturado e feitos de cobaias em testes para medicamentos de um vírus. O que chama atenção é que esse vírus foi criado por homens ligados ao governo, deixando bem claro a estratégia de “criar uma doença para vender a cura”. É algo que nos deixa com uma pulga atrás da orelha com relação aos vírus que realmente existem e uma possível máfia da indústria farmacêutica. Mas isso é apenas um detalhe do que o filme retrata. Os “Homens-Dedo” que são membros da polícia secreta, são retratados como autoritários e violentos. No começo da história, eles tentam estuprar uma moça que andava em horário proibido pelas ruas da cidade. A mídia é manipuladora, censurada pelo Governo (talvez o maior motivo de não vermos o filme em grandes canais brasileiros). A religião também é magistralmente alfinetada. O Chanceler é cristão e membros de igrejas são mostrados como sadistas e alguns deles, inclusive, transam com garotas virgens.



Além de lembrar os perigos de governos totalitários, o filme evoca o poder do povo. Não é por acaso que a máscara do protagonista seja utilizada em manifestações populares mundo afora.

Muitos reaças tentaram rebaixar a obra, considerando que ela incentiva ataques terroristas, entre outras argumentações vagas. Para mim, é uma das maiores obras-primas do cinema.

“O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo.”

“Suas bombas não matam nossa fome, mas alimentam nossa desgraça.”

“Ideias não são só carne e osso. Ideias são à prova de balas.”

“O medo se tornou a arma principal desse governo.”