18/11/2014

[CINEMA] Crítica: Cães de Aluguel

AVALIAÇÃO: 9,5/10,0.

Reservoir Dogs, 1992. Direção: Quentin Tarantino. Elenco: Michael Madsen, Chris Penn, Harvey Keitel,  Tim Roth.

Texto publicado em 19/01/2013 no site CinePlayers.

O surgimento de um mito. Se fosse para resumir o primeiro trabalho de Quentin Tarantino como diretor em uma frase, seria essa.

Em "Reservoir Dogs", o diretor mostra, de maneira bem clara, sua oposição aos clichês hollywoodianos e com sua personalidade cinéfila, conduz um plot aparentemente simples e batido em um filme que enche os olhos. Logo em seu início, o longa incorpora os temas que virariam marcas registradas do cineasta: excessivo uso de diálogos e referências à “cultura pop”. Momentos antes de roubarem diamantes em uma loja, os “cães” estão reunidos em uma lanchonete debatendo sobre músicas da Madonna e discutindo sobre o porquê de dar ou não gorjetas às garçonetes. E por incrível que pareça, esses diálogos são divertidos, passando bem longe de causarem tédio, por mais que não tenham qualquer relação com a trama central.

Com o decorrer do filme, percebemos que a narrativa não segue a ordem cronológica comum. Então conhecemos uma outra característica do diretor: fugir do convencional. Qualquer outro cineasta de desdobraria para executar a cena do roubo aos diamantes.
Tarantino ignorou isso, filmando apenas os acontecimentos anteriores e posteriores ao evento, mostrando que o roubo em si não tem importância alguma para a história. Os personagens e seus instintos, esses sim são importantes. E as consequências são mais do que importantes: são oportunidades para que tudo vire um show de ânimos exaltados, egos inflados e sangue derramado. Ah, por falar em sangue, eis outro elemento que se tornaria sua marca registrada, e sem moderações.

O roubo não deu totalmente certo. Um dos cães era um tira traidor. Alguns morreram, outros se feriram. Tarantino faz sua própria versão de “Quem é o traidor?”. E quando digo “sua própria versão”, preciso explicar mais alguma coisa? Não se há preocupação alguma em revelar este segredo ao espectador apenas no final. Pelo contrário, todas as pistas são dadas de cara. A história não precisa se prender nos habituais segredos. O segredo é jogado na nossa cara, para podermos nos divertir observando os personagens se debaterem na dúvida até o fim.

Para entrar no mérito de atuações e parar, por um pequeno momento, com os inúmeros elogios ao condutor do filme, até o canastra Michael Madsen consegue fazer uma boa participação. Mas são Harvey Keitel e Tim Roth que roubam a cena como Mr. White e Mr. Orange, respectivamente. “Não acredito que ela me matou, Larry!”.

Cada detalhe faz de “Reservoir Dogs” uma obra-prima. Desde o já mencionados, até a escolha dos apelidos personagens (usando nomes de cores), a ambientação, a hilária história do banheiro e o final, que é um dos mais humanos da história do cinema. Quentin Tarantino faz um filme para agradar suas próprias paixões, sendo esse, talvez, o principal motivo para o seu sucesso. Originalidade, ousadia, precisão, despirocagem, loucura… Poderia escrever um livro de 500 páginas para descrever as peculiaridades deste grande diretor e este seu primeiro trabalho, mas, nesse momento, prefiro parar por aqui.

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