29/01/2015

Vamos falar de feminismo?

É um assunto necessário e sei que pelo simples fato de eu ser homem branco já acarretará em inúmeras rejeições do meu texto. Mas peço calma e proponho um debate adulto e sério por aqui. Convido a todos a lerem meu texto e usarem o espaço dos comentários caso queiram me corrigir ou debater (mais uma vez, de maneira adulta) o tema.

Alguns chamam de "feminismo pós-moderno", outros de "misandria" e alguns outros de "RadFem". Rotulações desnecessárias à parte, falamos aqui de certas integrantes do movimento feminista que andam dando o que falar - principalmente nas redes sociais - com suas posturas prepotentes e extremistas, apesar de compreensíveis. Antes de entrar no mérito da questão, convido todos os leitores a uma breve reflexão sobre o machismo e o movimento feminista em si.


Machismo


Segundo o dicionário, a definição do machismo é:

Opinião ou atitudes que discriminam ou recusam a ideia de igualdade dos direitos entre homens e mulheres.
Característica, comportamento ou particularidade de macho; macheza.
Demonstração exagerada de valentia.
Informal. Excesso de orgulho do masculino; expressão intensa de virilidade; macheza. 

Pois bem, o comportamento machista é uma opressão originada pela construção social de que a figura masculina é dominante, superior à figura feminina. Tal comportamento data de muito tempo e podemos observar a presença do mesmo até mesmo na própria Bíblia Sagrado, onde em diversas passagens é citado que a mulher deve ser submissa à figura masculina.

De fato, o machismo é algo intolerável, assim como qualquer outra opressão, visto que todos nós humanos merecemos igualdade de direitos, liberdade e tratamento respeitoso independentemente das características particulares de cada pessoa.

Como é comum, toda opressão origina contrariedade por parte dos oprimidos, estes que em certo ponto não aceitam mais a imposição opressora e se organizam em movimentos para combater a opressão. Esse movimento foi denominado de Feminismo e, ao contrário do que indica, não é o machismo invertido, mas sim a luta contra ele.


Quem é atingido pelo machismo?


Historicamente é nítido que as mulheres são as principais vítimas do comportamento machista, mas se engana quem pensa que os próprios homens também não sejam oprimidos por ele. Graças a sua construção social, essa ideia de virilidade e superioridade "obrigatória" que o macho tem de passar, qualquer comportamento que fuja disso fará com que o homem seja oprimido. Por exemplo, um homem que chora e tem sua masculinidade duvidada por outras pessoas, visto que a figura masculina "não deve demonstrar fraquezas", comportamentos socialmente atribuídos às mulheres. Do mesmo jeito ocorrerá caso o homem demonstre ser sentimental, se depile e não se relacione com uma quantidade razoável de mulheres. Homens homossexuais então, estes estão ainda mais sujeitos ao machismo, uma vez que este anda de mãos dadas com a homofobia.

Portanto, mesmo que haja uma diferença de intensidade quanto a opressão, todas as pessoas, independente de gênero, estão sujeitas a sofrerem com o machismo.

Existem mulheres machistas?


A resposta é positiva e no nosso dia-a-dia temos vários exemplos de mulheres que, por conta de sua construção social, reproduzem o machismo e, com isso, defendem a ideia de superioridade masculina  e submissão feminina. Apesar de algumas pessoas considerarem que existe uma diferença entre "ser machista" e "reproduzir o machismo", minha opinião é bem divergente e segue a lógica, a semântica: a partir do momento que alguém reproduz machismo, esse alguém é machista. Da mesma forma que quem reproduz homofobia é homofóbico, mulher que reproduz machismo é machista. Assim como existem homossexuais homofóbicos.



Homens podem ser feministas?


Talvez a questão que mais anda gerando polêmica ultimamente. A partir do momento que todos estão sujeitos a sofrerem com o machismo, nada mais justo do que homens e mulheres se organizarem contra o machismo, buscando a desconstrução do mesmo e forçando políticas mais igualitárias entre os gêneros. Acontece que por conta do nome, muita gente vem considerando que o feminismo é um movimento exclusivo para mulheres, não considerando que homens também são alvos potenciais e expurgando (muitas vezes ridicularizando) os que se dizem feministas. Concordo que o protagonismo deve ser das mulheres, visto que estas são as maiores oprimidas, mas radicalizar a ponto de não aceitar homens no movimento é uma atitude a ser repensada e que gera ainda mais controvérsias e afastamento da sociedade para com o mesmo.

Várias pessoas consideram com os homens podem ser "apenas" pró-feministas e mais uma vez se percebe um problema lógico e semântico. Uma vez que o feminismo não é uma característica/condição humana, mas sim uma ideologia, tal consideração acaba não fazendo o menor sentido por conta de passarem exatamente o mesmo significado. Seria o mesmo que falar que uma pessoa que defende os ideais socialistas não é socialista, mas sim pró-socialista.


Homens podem dar pitacos no feminismo?

Nenhum movimento/ideologia está acima de críticas. Pessoas merecem respeito e direitos. Ideologias merecem debate. Infelizmente, o radicalismo de certas feministas (e "pró-feministas") estão impondo que "homem" e principalmente o "homem branco" não pode criticar ("dar pitaco") no movimento. É um erro grave imaginar que só pelo fato do movimento ser composto por oprimidos, ele não possa ser criticado por quem os militantes consideram como "potencial opressor". Assim o movimento racha entre os próprios apoiadores e perde a força para brigar por conquistas. Como dito, todo debate é válido se tratando de movimentos, mas qualquer tentativa de debate que é proposta sobre o feminismo é visto como uma "tentativa de roubar o protagonismo" e merece ridicularização.

Essa imposição de regras fabricadas anda gerando muito conflito, abalos de amizades e até casos graves como exposição e linchamento moral virtuais de homens que persistem em procurar o debate. A questão que proponho é: será que esse realmente é o caminho? Tudo que se torna extremista perde pontos e passa a ser mal-visto pela sociedade e ser extremista com os próprios apoiadores então é pedir para que a militância vire piada e vá a falência. Mas lembro, é apenas uma crítica construtiva. Não quero roubar o protagonismo de ninguém...



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