08/10/2014

4 Filmes que todo reaça deveria assistir.

Quem navega um pouquinho pela internet percebe a quantidade de jovens de Direita que temos hoje no Brasil. Esses famosos “reaças” parecem seguir um script:

  • Ser contrário a programas assistenciais, como o Bolsa Família, e chamar os beneficiários de vagabundos;
  • Defender a justiça cega, apoiando quem amarra bandido pelado em poste e agir de maneira irracional;
  • Defender a moral e os bons costumes;
  • Ser contra minorias, como no caso, dos LGBT's. “Não tenho nada contra gays, mas que fiquem bem longe da minha família”;
  • Apoiar atitudes extremistas dos policiais, como chegar na favela metendo bala pra todo lado;
  • Ser contra a legalização das drogas, pois a mesma fará apologia ao uso;
  • Ser a favor da vida e, portanto, ser contra o aborto;
  • Ser a favor da vida, mas a favor da pena de morte;
  • Aliás, falando em pena de morte, achar que atitudes como tal e outras como redução da maioridade penal e armamento da população “do bem”, resolverão o problema de segurança pública;
  • Seguir as páginas como Bolsonaro Zuero, TV Revolta e de heróis como Danilo, Raquel, entre outras;
  • Defender que todos possuam liberdade de expressão para atacar minorias;
  • Achar que racismo, xenofobia, machismo e homofobia são apenas vitimismos;
  • Defender a Ditadura Militar do Brasil e ser contra ideais socialistas por medo de uma ditadura comunista ser implantada por aqui.
Poderia fazer um manual aqui de como ser um reaça, vulgo coxinha. Mas chega. Vamos aos filmes, que todo mundo que se encaixa em tal categoria deveria assistir.

PS: Não é por acaso que amo o cinema. É uma arte completa e muitos cineastas a utilizaram e a utilizam para denunciar e criticar sofismas humanos.

Orações Para Bobby

(Prayers for Bobby, 2009,  Russell Mulcahy)

Belíssimo filme que retrata a homossexualidade do ponto de vista familiar e nos mostra como declarações tidas como não-homofóbicas podem sim destruir um ambiente familiar. Na política brasileira, temos o exemplo do Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ) que diz não ser homofóbico, mas proferiu pérolas como “Se eu tivesse um filho gay, em casa ele não pisaria mais”, “Ter filho gay é falta de porrada”, entre outras. Até mesmo os religiosos que pregam aos seus fiéis que a homossexualidade é pecado e não são obrigados a aceitarem.
No filme, Bobby é um jovem que descobre sua sexualidade e tem de enfrentar a mãe, uma religiosa fervorosa que não aceita a situação. Com a intenção de “curá-lo”, ela submete Bobby a terapias e ritos religiosos. Pressionado, o jovem comete suicídio e, tardiamente, a mãe arrependida começa a buscar o entendimento ouvindo o outro lado, fora de suas convicções religiosas.
O mérito da película é deixar bem claro que não é a homossexualidade que destrói uma família, mas sim a sua ignorância, a falta de comprometimento em conhecer o assunto. “Orações Para Bobby” é baseado em fatos e, infelizmente, trata a realidade de muitos jovens. Não é raro termos notícias de jovens como Bobby, que cometem suicídio por conta da rejeição familiar.



São frases como as de Bolsonaro e religiosos fundamentalistas que atentam contra a família e nada contribuem para a construção de uma sociedade decente. Homofobia não é só bater ou matar homossexuais, mas sim julgar a sexualidade sem conhecimento de causa e incentivar, direta ou indiretamente, agressões verbais e/ou físicas contra essas pessoas.







O Menino Do Pijama Listrado.

(The Boy in the Striped Pyjamas, 2008, Mark Herman)

 O filme do diretor Mark Herman é uma adaptação de livro homônimo que traz a visão pura de uma criança na Segunda Guerra Mundial. No caso, Bruno é filho de oficial nazista que assume um cargo importante em um campo de concentração, obrigando a família deixar a cidade, Berlim, para uma área bem isolada. Triste por ter de deixar seus amigos, Bruno passa a ter uma vida solitária. Quando vê, da janela de seu quarto há uma certa distância dali, uma “fazenda” com crianças e adultos vestindo o que ele chama de “pijamas”, o garoto resolve se aproximar do local. É aí que ele conhece Shmuel, um garoto judeu de mesma idade, com quem cria um forte laço de amizade, mesmo com uma cerca separando-os. Bruno mal sabe que ali, adultos e crianças como Shmuel, são torturados, escravizados e incinerados. O final do filme, que não vou contar, é um verdadeiro tapa na cara do ser humano. O mérito da película é o paralelo entre o mundo da infância e o mundo adulto. Enquanto uma criança alemã e uma criança judia desenvolvia uma amizade, os judeus eram tratados como lixo pelos adultos nazistas. Aliás, a frase de entrada do filme diz tudo: “A infância é medida por sons, aromas e visões antes de surgir a hora sombria da razão” John Betjeman.

- Por qual motivo você indica esse filme para mim? Eu sou reaça, mas sou totalmente contra o nazismo. Não tem nada a ver!!!!

Engraçado é que vejo muitas pessoas falando que são contra o nazismo, mas que são xenofóbicas, homofóbicas e até mesmo as que consideram defensores da Esquerda como seres inferiores. Cansei de ler comentários do tipo “esquerdistas deveriam ser eliminados”. São pensamentos muitos próximos aos dos nazistas.  

A Caça

(Jagten, 2012, Thomas Vinterberg)



Esse maravilhoso filme de Thomas Vinterberg mexe em várias feridas.
perda da guarda do filho. Conhecido por ser amigável com todos, a paz de Lucas termina quando uma menina da creche diz a diretora que ele a mostrou suas partes íntimas. Na verdade, a menina não sabe e nem possui noção do que está falando. Ao nutrir uma paixão infantil de Lucas e se sentir rejeitada, a menina apenas quis se vingar dele. Um pouco antes do ocorrido, o irmão mais velho da menina tinha mostrado uma imagem pornográfica para ela através de um celular, o que serviu como munição para a garota. Com a viralização da acusação e pela falácia de que criança não mente, toda a pequena cidade passa a hostilizar e agredir Lucas, mesmo sem nenhuma prova concreta do ocorrido. O principal mérito de Vinterberg é não esconder que Lucas é inocente e assim colocar o espectador em estado de terror e agonia, como o objetivo de fazer refletir profundamente a respeito de certas questões:

– Criança pode mentir sim, mesmo que seja de maneira inocente. Dependendo de como a criança é criada e do que ela ouve ou assiste, mesmo com pouca idade ela pode desenvolver certo nível de maldade;

– Uma acusação falsa, partindo tanto de uma criança ou de um adulto, pode trazer danos irreversíveis para a vida de uma pessoa;

- Duvido que alguém que tenha assistido ao filme continuou a favor da justiça com as próprias mãos. É inevitável não se colocar no papel de Lucas: já pensou ser acusado de algo que não fez e correr o risco de até morrer por isso?

Lembro que assisti esse filme pouco depois de uma jornalista dizer que é “compreensível” o povo fazer justiça com as próprias mãos. Foi impossível não fazer alusão com tal acontecimento.



V de Vingança

(V for Vendetta, 2005, James McTeigue)


Um filme que os conservadores odeiam. Por sinal é um filme muito raro de se ver na TV aberta aqui no Brasil. Os motivos são óbvios. Em um futuro próximo, o mundo vive uma crise e em guerra. O Reino unido se mantém estável no governo fascista e totalitário, comandado pelo Chanceler Adam Sutler. Muito parecido com o regime nazista, minorias como opositores, homossexuais e outros considerados inferiores são mandados para campos de concentração, onde não torturado e feitos de cobaias em testes para medicamentos de um vírus. O que chama atenção é que esse vírus foi criado por homens ligados ao governo, deixando bem claro a estratégia de “criar uma doença para vender a cura”. É algo que nos deixa com uma pulga atrás da orelha com relação aos vírus que realmente existem e uma possível máfia da indústria farmacêutica. Mas isso é apenas um detalhe do que o filme retrata. Os “Homens-Dedo” que são membros da polícia secreta, são retratados como autoritários e violentos. No começo da história, eles tentam estuprar uma moça que andava em horário proibido pelas ruas da cidade. A mídia é manipuladora, censurada pelo Governo (talvez o maior motivo de não vermos o filme em grandes canais brasileiros). A religião também é magistralmente alfinetada. O Chanceler é cristão e membros de igrejas são mostrados como sadistas e alguns deles, inclusive, transam com garotas virgens.



Além de lembrar os perigos de governos totalitários, o filme evoca o poder do povo. Não é por acaso que a máscara do protagonista seja utilizada em manifestações populares mundo afora.

Muitos reaças tentaram rebaixar a obra, considerando que ela incentiva ataques terroristas, entre outras argumentações vagas. Para mim, é uma das maiores obras-primas do cinema.

“O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo.”

“Suas bombas não matam nossa fome, mas alimentam nossa desgraça.”

“Ideias não são só carne e osso. Ideias são à prova de balas.”

“O medo se tornou a arma principal desse governo.”







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