Quem navega um
pouquinho pela internet percebe a quantidade de jovens de Direita que
temos hoje no Brasil. Esses famosos “reaças” parecem seguir um
script:
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Ser contrário a programas assistenciais, como o Bolsa Família, e chamar os beneficiários de vagabundos;
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Defender a justiça cega, apoiando quem amarra bandido pelado em poste e agir de maneira irracional;
- Defender a moral e os bons costumes;
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Ser contra minorias, como no caso, dos LGBT's. “Não tenho nada contra gays, mas que fiquem bem longe da minha família”;
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Apoiar atitudes extremistas dos policiais, como chegar na favela metendo bala pra todo lado;
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Ser contra a legalização das drogas, pois a mesma fará apologia ao uso;
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Ser a favor da vida e, portanto, ser contra o aborto;
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Ser a favor da vida, mas a favor da pena de morte;
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Aliás, falando em pena de morte, achar que atitudes como tal e outras como redução da maioridade penal e armamento da população “do bem”, resolverão o problema de segurança pública;
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Seguir as páginas como Bolsonaro Zuero, TV Revolta e de heróis como Danilo, Raquel, entre outras;
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Defender que todos possuam liberdade de expressão para atacar minorias;
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Achar que racismo, xenofobia, machismo e homofobia são apenas vitimismos;
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Defender a Ditadura Militar do Brasil e ser contra ideais socialistas por medo de uma ditadura comunista ser implantada por aqui.
Poderia fazer um
manual aqui de como ser um reaça, vulgo coxinha. Mas chega. Vamos
aos filmes, que todo mundo que se encaixa em tal categoria deveria
assistir.
PS: Não é por
acaso que amo o cinema. É uma arte completa e muitos cineastas a
utilizaram e a utilizam para denunciar e criticar sofismas humanos.
Orações Para Bobby
(Prayers for Bobby, 2009, Russell Mulcahy)
Belíssimo filme que
retrata a homossexualidade do ponto de vista familiar e nos mostra
como declarações tidas como não-homofóbicas podem sim destruir um
ambiente familiar. Na política brasileira, temos o exemplo do Dep.
Jair Bolsonaro (PP-RJ) que diz não ser homofóbico, mas proferiu
pérolas como “Se eu tivesse um filho gay, em casa ele não pisaria
mais”, “Ter filho gay é falta de porrada”, entre outras. Até
mesmo os religiosos que pregam aos seus fiéis que a homossexualidade
é pecado e não são obrigados a aceitarem.
No filme, Bobby é
um jovem que descobre sua sexualidade e tem de enfrentar a mãe, uma
religiosa fervorosa que não aceita a situação. Com a intenção de
“curá-lo”, ela submete Bobby a terapias e ritos religiosos.
Pressionado, o jovem comete suicídio e, tardiamente, a mãe
arrependida começa a buscar o entendimento ouvindo o outro lado,
fora de suas convicções religiosas.
O mérito da
película é deixar bem claro que não é a homossexualidade que
destrói uma família, mas sim a sua ignorância, a falta de
comprometimento em conhecer o assunto. “Orações Para Bobby” é
baseado em fatos e, infelizmente, trata a realidade de muitos jovens.
Não é raro termos notícias de jovens como Bobby, que cometem
suicídio por conta da rejeição familiar.
São frases como as
de Bolsonaro e religiosos fundamentalistas que atentam contra a
família e nada contribuem para a construção de uma sociedade
decente. Homofobia não é só bater ou matar homossexuais, mas sim
julgar a sexualidade sem conhecimento de causa e incentivar, direta
ou indiretamente, agressões verbais e/ou físicas contra essas
pessoas.
O Menino Do Pijama Listrado.
(The Boy in the Striped Pyjamas, 2008, Mark Herman)
O filme do diretor Mark Herman é uma adaptação de livro homônimo
que traz a visão pura de uma criança na Segunda Guerra Mundial. No
caso, Bruno é filho de oficial nazista que assume um cargo
importante em um campo de concentração, obrigando a família deixar
a cidade, Berlim, para uma área bem isolada. Triste por ter de
deixar seus amigos, Bruno passa a ter uma vida solitária. Quando vê,
da janela de seu quarto há uma certa distância dali, uma “fazenda”
com crianças e adultos vestindo o que ele chama de “pijamas”, o
garoto resolve se aproximar do local. É aí que ele conhece Shmuel,
um garoto judeu de mesma idade, com quem cria um forte laço de
amizade, mesmo com uma cerca separando-os. Bruno mal sabe que ali,
adultos e crianças como Shmuel, são torturados, escravizados e
incinerados. O final do filme, que não vou contar, é um verdadeiro
tapa na cara do ser humano. O mérito da película é o paralelo
entre o mundo da infância e o mundo adulto. Enquanto uma criança
alemã e uma criança judia desenvolvia uma amizade, os judeus eram
tratados como lixo pelos adultos nazistas. Aliás, a frase de entrada
do filme diz tudo: “A infância é medida por sons, aromas e
visões antes de surgir a hora sombria da razão”
John
Betjeman.
-
Por
qual motivo você indica esse filme para mim? Eu sou reaça, mas sou
totalmente contra o nazismo. Não tem nada a ver!!!!
Engraçado
é que vejo muitas
pessoas falando que são contra o nazismo, mas que são xenofóbicas,
homofóbicas e até mesmo as que consideram defensores da Esquerda
como seres inferiores. Cansei de ler comentários do tipo
“esquerdistas deveriam ser eliminados”. São pensamentos muitos
próximos aos dos nazistas.
A Caça
(Jagten, 2012, Thomas Vinterberg)
Esse
maravilhoso filme de Thomas Vinterberg mexe em várias feridas.
perda da guarda do filho.
Conhecido por ser amigável com todos, a paz de Lucas termina quando
uma menina da creche diz a diretora que ele a mostrou suas partes
íntimas. Na verdade, a menina não sabe e nem possui noção do que
está falando. Ao nutrir uma paixão infantil de Lucas e se sentir
rejeitada, a menina apenas quis se vingar dele. Um pouco antes do
ocorrido, o irmão mais velho da menina tinha mostrado uma imagem
pornográfica para ela através de um celular, o que serviu como
munição para a garota. Com a viralização da acusação e pela falácia de que criança não mente, toda a pequena cidade passa a
hostilizar e agredir Lucas, mesmo sem nenhuma prova concreta do
ocorrido. O principal mérito de Vinterberg é não esconder que
Lucas é inocente e assim colocar o espectador em estado de terror e
agonia, como o objetivo de fazer refletir profundamente a respeito de
certas questões:
–
Criança
pode mentir sim, mesmo que seja de maneira inocente. Dependendo de
como a criança é criada e do que ela ouve ou assiste, mesmo com
pouca idade ela pode desenvolver certo nível de maldade;
–
Uma
acusação falsa, partindo tanto de uma criança ou de um adulto,
pode trazer danos irreversíveis para a vida de uma pessoa;
-
Duvido
que alguém que tenha assistido ao filme continuou a favor da justiça
com as próprias mãos. É inevitável não se colocar no papel de
Lucas: já pensou ser acusado de algo que não fez e correr o risco
de até morrer por isso?
Lembro
que assisti esse filme pouco depois de uma jornalista dizer que é
“compreensível” o povo fazer justiça com as próprias mãos.
Foi impossível não fazer alusão com tal acontecimento.
V de Vingança
(V for Vendetta, 2005, James McTeigue)
Um
filme que os conservadores odeiam. Por sinal é um filme muito raro
de se ver na TV aberta aqui no Brasil. Os motivos são óbvios. Em um
futuro próximo, o mundo vive uma crise e em guerra. O Reino unido se
mantém estável no governo fascista e totalitário, comandado pelo
Chanceler Adam Sutler. Muito parecido com o regime nazista, minorias
como opositores, homossexuais e outros considerados inferiores são
mandados para campos de concentração, onde não torturado e feitos
de cobaias em
testes para medicamentos de um vírus. O que chama atenção é que
esse vírus foi criado por homens ligados ao governo, deixando bem
claro a estratégia de “criar uma doença para vender a cura”. É
algo
que nos deixa com uma pulga atrás da orelha com relação aos vírus
que realmente existem e uma possível máfia da indústria
farmacêutica. Mas isso é apenas um detalhe do que o filme retrata.
Os “Homens-Dedo” que são membros da polícia secreta, são
retratados como autoritários e violentos. No começo da história,
eles tentam estuprar uma moça que andava em horário proibido pelas
ruas da cidade. A mídia é manipuladora, censurada pelo Governo
(talvez o maior motivo de não vermos o filme em grandes canais
brasileiros). A religião também é magistralmente alfinetada. O
Chanceler é cristão e membros de igrejas são mostrados como
sadistas e alguns deles, inclusive, transam com garotas virgens.
Além
de lembrar os perigos de governos totalitários, o filme evoca o
poder do povo. Não é por acaso que a máscara do protagonista seja
utilizada em manifestações populares mundo afora.
Muitos
reaças tentaram rebaixar a obra, considerando que ela incentiva
ataques terroristas, entre outras argumentações vagas. Para mim, é
uma das maiores obras-primas do cinema.
“O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo.”
“Suas bombas não matam nossa fome, mas alimentam nossa desgraça.”
“Ideias não são só carne e osso. Ideias são à prova de balas.”
“O medo se tornou a arma principal desse governo.”
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